Caros Amigos,
Quinta feira à noite, altura de divulgar mais um "post" sobre o meu segundo livro "Que a terra te seja leve".
Neste texto irei falar-vos do Anselmo Munguambe, o ex detetive angolano.
Na próxima quinta será a vez do John Travis, o mercenário sul africano.
Antes de me debruçar sobre o Munguambe, falo-vos de tempestades, mar revoltoso e de um barco à deriva. Trata-se de um pequeno quase conto:
UM QUASE CONTO POUCO EDIFICANTE
Quinta feira à noite, altura de divulgar mais um "post" sobre o meu segundo livro "Que a terra te seja leve".
Neste texto irei falar-vos do Anselmo Munguambe, o ex detetive angolano.
Na próxima quinta será a vez do John Travis, o mercenário sul africano.
Antes de me debruçar sobre o Munguambe, falo-vos de tempestades, mar revoltoso e de um barco à deriva. Trata-se de um pequeno quase conto:
UM QUASE CONTO POUCO EDIFICANTE
TRAGICOMÉDIA MARÍTIMA
EM MEIO ATO
No meio da violenta
tempestade, um navio segue sem rumo.
Dentro do velho barco, uns
remam, outros tiram a água que inunda o convés e todos rezam para
conseguir chegar sãos e salvos a terra.
O barco, sabem bem, está
perdido. O rombo que sofreu no verão de 2014 estragou-lhes a rota e ditou o
destino.
Agora importa apenas fazer chegar o navio a terra.
A tormenta estala brava;
cada vez entra mais água no convés, e a terra não passa de miragem.
Um tripulante louco desce
ao porão segurando uma enorme broca.
Estala um coro de aflitos
ao verem o buraco que a broca faz no casco.
Quando o mar inunda o
porão, o louco tripulante grita:
Trinta milhões!
Infligi um buraco de trinta milhões!
Gritos, rezas e uns
quantos marinheiros as saltarem borda fora.
Talvez um milagre
aconteça. Ainda há esperança de ver terra.
Redobram-se esforços,
multiplicam-se vontades.
Os baldes retiram água mais rapidamente e
rema-se agora com mais vigor.
Faz-se das fraquezas, forças.
Talvez, talvez ainda se
consiga chegar a terra.
Do nevoeiro surge uma vez
mais e negra broca.
E o louco tripulante faz outro furo no porão.
Hoje adicionei um excerto sobre o Anselmo Munguambe
ao site do livro ( www.correiodearc.wix.com/terra ),
ao blog (http://terraleve.blogspot.pt/ )
e ao facebook (www.facebook.com/terraleve).
ao site do livro ( www.correiodearc.wix.com/terra ),
ao blog (http://terraleve.blogspot.pt/ )
e ao facebook (www.facebook.com/terraleve).
Já leram algum policial em que o detective fosse homossexual? Não?
Pois eu também não. Por isso meti mãos à obra e criei um detective gay… e depressivo.
Confesso que a princípio o objectivo que me propus pareceu-me complicado. Li há tempos que os sentimentos, a qualidade dos sentimentos não conhece cor, nem religião, nem sexo. Fiquei a matutar nisto por uns tempos e depois percebi que o amor, tal como o desejo, a inveja, a raiva ou o desespero são intrínsecos de nós, humanos, independentemente de tendência sexuais, sociais ou religiosas.
Tendo isto em mente, foi-me mais fácil trabalhar a personagem Anselmo Munguambe, os seus medos, desejos e amores.
Confesso que a princípio o objectivo que me propus pareceu-me complicado. Li há tempos que os sentimentos, a qualidade dos sentimentos não conhece cor, nem religião, nem sexo. Fiquei a matutar nisto por uns tempos e depois percebi que o amor, tal como o desejo, a inveja, a raiva ou o desespero são intrínsecos de nós, humanos, independentemente de tendência sexuais, sociais ou religiosas.
Tendo isto em mente, foi-me mais fácil trabalhar a personagem Anselmo Munguambe, os seus medos, desejos e amores.
Queria um personagem ao mesmo tempo misterioso e socialmente
distante. Estava a ver uma série do Fringe quando esbarrei no “meu” Anselmo.
Depois recordei-me de também o ter visto
em “The Wire” e, sim, lá estavam as características com que tinha
vestido o meu personagem. Recentemente ele voltou a aparecer noutra série (The Blacklist) e, adivinhem, era
mesmo o meu Anselmo sem tirar nem pôr!
A música foi das mais fáceis de encontrar. Colocar um gay como detective é uma
provocação que fiz aos romances policiais (todos são hétero, que eu saiba).
Resolvi levar a provocação um pouco mais à frente. E que tal uma música
delicada, romântica (melada, mesmo) para um detective durão e gay? E
agora, ainda mais um passo para
dificultar a escolha: sendo ele africano, que tal colocar um ritmo de savana na
tal música suave, romântica e melada?
Parece difícil, não é? Mas não, foi muito fácil, até. Basta passear pelo Kruger e comprar uns quantos CD’s locais… Esta música é uma pérola para mim; não tanto pela estrutura ou sonoridade mas por ter sido uma descoberta que traz à lembrança umas férias fabulosas. Digam lá, alguém conhece um grupo chamado Malaika Vuthelani? E Baba Wami? Não? Pois fiquem sabendo que Baba Wami até uma música altamente romântica. Aliás, própria do Munguambe. Certo? Alguma dúvida, soba? Aqui o thshindéré foi aluka dos mutu! Um canando páti, panji!
Ouçam a música do Anselmo Munguambe clicando na imagem.
Parece difícil, não é? Mas não, foi muito fácil, até. Basta passear pelo Kruger e comprar uns quantos CD’s locais… Esta música é uma pérola para mim; não tanto pela estrutura ou sonoridade mas por ter sido uma descoberta que traz à lembrança umas férias fabulosas. Digam lá, alguém conhece um grupo chamado Malaika Vuthelani? E Baba Wami? Não? Pois fiquem sabendo que Baba Wami até uma música altamente romântica. Aliás, própria do Munguambe. Certo? Alguma dúvida, soba? Aqui o thshindéré foi aluka dos mutu! Um canando páti, panji!
Ouçam a música do Anselmo Munguambe clicando na imagem.
Podem consultar a página do Anselmo Munguambe em: http://correiodearc.wix.com/terra#!__anselmo
Escrevo algo que não me canso de sublinhar: utilizem umas boas colunas ou uns auscultadores. Há imensa música no site e, francamente, o som dos PCs, tablets, etc, é mau (horrível, mesmo).
Caso gostem deste site e do que estão a ler, divulguem pelos vossos amigos. É a única forma de um desconhecido autor chegar a um público mais vasto. Os endereços são: www.facebook.com/terraleve ou http://terraleve.blogspot.pt/.
E pronto, amigos. Em breve estarei aqui para vos falar sobre o John Travis.
UM ANO PARA O FIM
ANSELMO MUNGUAMBE
LUANDA
Quinta feira, 10/Dez/2015, 10:00
Contraiu os músculos e mudou de posição na rede mas, por mais que faça, não consegue encaixar todo o enorme corpo no adorável pedaço de pano. As longas pernas tombam molemente roçando o chão.
Ultimamente a rede é o seu mundo.
Não fosse o constante resmungo da Luena e passaria ali toda a noite, esparramado nesta deliciosa invenção que um dia os brasileiros deram a conhecer ao mundo. Passava na rede a noite, a manhã, a tarde... Era capaz de viver o que restasse da vida nesta rede, mexendo-se o menos possível e, principalmente, tentando não pensar em nada.
Tinha descoberto as virtudes do imobilismo como filosofia de vida.
- Um dia ainda cais dessa maldita coisa e partes o teu preguiçoso cu negro – resmunga a Luena, afadigada na cozinha - Talvez depois faças alguma coisa da tua desgraçada vida. Tem vergonha, negro. Quase com quarenta e cinco anos e continuas matumbo como um rapazinho apaixonado.
Anselmo suspira. Ultimamente não tem feito outra coisa que não suspirar. Olha para o portão ferrugento e vê uma quitandeira a passar, a cabeça submersa pelo sacão de serapilheira, as costas vergadas pela trouxa maior que ela.
Por um momento pensa responder à Luena.
Arrepende-se. Vira-se para o outro lado e decide não falar. Não falar nem pensar.
Principalmente não pensar no Puto Zé.
Novo suspiro, desta vez mais profundo.
Da cozinha, o barulho de tachos intensifica-se.
Um bando de miúdos passa numa gritaria e um cão ladra para o ar. Ao longe, um rádio desata aos berros com irados solos de guitarra elétrica acompanhado por uma bateria histérica.
- Já concertaste a tabuleta? – de novo a Luena a barafustar com ele desde a cozinha.
Não, não tinha concertado a tabuleta. Nem iria concertar . Aliás, a ideia colocar a maldita tabuleta anunciando os serviços do detetive Anselmo, não fora sua. A Luena, sua vizinha, confidente, mulher a dias e recentemente auto proclamada secretária particular “pró bono”, passou um fim de semana a desenhar naquela maldita tábua as palavras escritas a vermelho. Depois desenhou uma pistola e umas algemas. Como se não bastasse, esborratou algo parecido com uma bomba a rebentar. Um dia ainda lhe vai perguntar qual o significado dessa bomba. Tudo a vermelho sobre um fundo amarelo.
Fantástico!
Serviços do detetive Anselmo.
Assim mesmo.
Que serviços, meu Deus? Mulher desconfia de marido? Felizmente ainda não lhe apareceu ninguém. Nem mulher, nem marido, nem amante. Nem admira que não apareça. Aquela placa amarela com letras vermelhas deve afugentar os potenciais clientes.
Quem ele queria não aparece. Ou melhor, quem ele queria, desapareceu. Gosta de acreditar que voou para os braços das notas verdes. Que foi mais por interesse que por desejo. Mas não tem a certeza. E isso é o que magoa mais. Não ter a certeza. Uma dor inunda-lhe a memória ao mesmo tempo que o desejo se incendeia nas virilhas. Força o cérebro a esquecer. A ser como uma tela em branco.
Da cozinha, os tachos batem com mais violência.
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