UM QUASE CONTO POUCO EDIFICANTE:
O LINCHAMENTO DO ZÉZINHO.
Os dois putos olham esperançados para o Zézinho. Basta um pouco de sorte para se safarem desta embrulhada.
Um pouquinho só.
Em bom rigor, só necessitam que o Zézinho seja o bronco que costuma ser.
No verão passado aqueles dois tinham estragado o ai Jesus da malta: um estiloso e muito acarinhado carrinho de rolamentos.
Sem que a malta soubesse, meteram-se em corridas com o carrinho de rolamentos. Agora lamentam ter puxado demasiado pelo bólide de madeira que se desconjuntou logo na segunda curva, deixando o Pedrinho com um joelho em mísero estado e um enorme problema para aqueles dois.
Sem que a malta soubesse, meteram-se em corridas com o carrinho de rolamentos. Agora lamentam ter puxado demasiado pelo bólide de madeira que se desconjuntou logo na segunda curva, deixando o Pedrinho com um joelho em mísero estado e um enorme problema para aqueles dois.
Uma bisnaga de cola tudo, cinco ou seis pregos martelados com muita energia e um novelo de cordel cientificamente aplicado, camuflam a desgraça e adiam o inevitável. É justo dizer que o São Pedro tem dado uma preciosa ajuda; com o chuvoso inverno que se fez sentir, desde o infeliz acidente no verão passado que o remendado carrinho de rolamentos ainda não saiu da garagem do Jota .
O bom tempo que aí vem soa a raios e coriscos para estes dois putos. Se fossem de rezas, os dois putos até
imploravam à Senhora do Loreto a benesse de um milagre. Não sendo,
estavam de olho no Zezinho. Contavam com a sua lendária estupidez
para se safarem deste aperto..
E o inevitável aconteceu logo ao terceiro dia de bonança : a malta decidiu fazer hoje uma corrida.
E o inevitável aconteceu logo ao terceiro dia de bonança : a malta decidiu fazer hoje uma corrida.
O bando dispersou-se alegremente ladeira abaixo e o Zézinho era dos mais impacientes em exibir os seus dotes de pilotaço.
Cuidado com o carrinho!, gritavam o mais alto que conseguiam, os dois sabidos putos.
Olhando para a íngreme ladeira e ouvindo os sábios conselhos daqueles dois malandrecos, a malta ficou subitamente indecisa.
Talvez fosse melhor descerem algo mais suave.
Talvez fosse melhor descerem algo mais suave.
Foi nesta altura que os dois putos olharam esperançados para o Zézinho.
O coração deles baqueou ao verem o bronco Zézinho vacilar um pouco, enquanto olhava para a inclinada ladeira.
Em pânico, os dois putos redobraram o gritos:
É melhor não ires, Zézinho. Tu não és capaz!
Olha que ainda nos estragas o carrinho de rolamentos!
O coração deles baqueou ao verem o bronco Zézinho vacilar um pouco, enquanto olhava para a inclinada ladeira.
Em pânico, os dois putos redobraram o gritos:
É melhor não ires, Zézinho. Tu não és capaz!
Olha que ainda nos estragas o carrinho de rolamentos!
Com o orgulho ferido e a másculo sentir posto em causa, o Zézinho empurra decidido o carrinho de rolamentos. Solta o grito de guerra e à segunda tentativa lá consegue saltar para dentro do carrinho de rolamentos.
A cola, os pregos e o cordel aguentaram estoicamente as primeiras guinadas do Zézinho.
A malta gritava e aplaudia numa excitação crescente.
O carrinho de rolamentos com o Zézinho lá dentro parecia possuido pelo demo. Ladeira abaixo sem travão nem air bag, lá ia o carrinho de rolamentos entre gritos e vivas.
Saiu da primeira curva embalado e sem se desconjuntar, com o Zézinho a uivar que nem um louco.
Os dois putos, mudos de espanto, nem queriam acreditar no que viam.
A malta gritava e aplaudia numa excitação crescente.
O carrinho de rolamentos com o Zézinho lá dentro parecia possuido pelo demo. Ladeira abaixo sem travão nem air bag, lá ia o carrinho de rolamentos entre gritos e vivas.
Saiu da primeira curva embalado e sem se desconjuntar, com o Zézinho a uivar que nem um louco.
Os dois putos, mudos de espanto, nem queriam acreditar no que viam.
Não me digas que...
Mas ao entrar na segunda curva, a força centrifuga fez valer os seus pergaminhos e logo uma das rodas saiu disparada.
O alucinado rolamento falhou por milímetros o BMW do senhor Álvaro e fez um arco perfeito sobre o muro da casa da D. Roberta, a austera mãe do Zézinho.
No meio de tamanha aflição, ninguém ouviu os vidros estilhaçados da vivenda da pobre senhora.
Olhando para o que estava a acontecer, até o pastor alemão da D. Roberta se esqueceu de ladrar.
Perante o coro horrorizado da malta, o eixo do carrinho de rolamentos quebrou-se.
Ainda hoje há quem afirme ter visto um prego e um pedaço de cordel irem pelos ares, enquanto o precioso bólide se partia em mil pedaços.
O alucinado rolamento falhou por milímetros o BMW do senhor Álvaro e fez um arco perfeito sobre o muro da casa da D. Roberta, a austera mãe do Zézinho.
No meio de tamanha aflição, ninguém ouviu os vidros estilhaçados da vivenda da pobre senhora.
Olhando para o que estava a acontecer, até o pastor alemão da D. Roberta se esqueceu de ladrar.
Perante o coro horrorizado da malta, o eixo do carrinho de rolamentos quebrou-se.
Ainda hoje há quem afirme ter visto um prego e um pedaço de cordel irem pelos ares, enquanto o precioso bólide se partia em mil pedaços.
Por momentos o Zézinho voou como um pardal, urrou que nem um burro e estatelou-se ao comprido na calçada como um saco de batatas.
Muito chorou e gritou a malta pelo seu carrinho de rolamentos escaqueirado.
Também o pastor alemão da D. Roberta, recuperado do susto, pos-se a ladrar furiosamente.
Também o pastor alemão da D. Roberta, recuperado do susto, pos-se a ladrar furiosamente.
De todos, os mais inconsoláveis eram os dois putos.
Foi então que uma fúria justiceira varreu o grupo e todos desataram a correr atrás do maldito Zézinho.
Caros Amigos,
Hoje adicionei um excerto sobre o John Travis.
Site do livro( www.correiodearc.wix.com/terra ),
Blog (http://terraleve.blogspot.pt/ )
Facebook (www.facebook.com/terraleve).
Hoje adicionei um excerto sobre o John Travis.
Site do livro( www.correiodearc.wix.com/terra ),
Blog (http://terraleve.blogspot.pt/ )
Facebook (www.facebook.com/terraleve).
Este mercenário Sul Africano deveria aparecer apenas num único capítulo.
Coisa marginal, apenas. Imaginei-o possante, rude, racista e impiedoso. Como escrevi, estava destinado
a passar despercebido. O John Travis devia ser personagem de um capítulo apenas.
Acontece que ao longo do processo de escrita fui tropeçando
frequentemente neste rude homem e, sim,
a personagem parecia que tinha vontade própria. Então o que era para ser uma
aparição esporádica foi permanecendo ao longo dos capítulos. Também se foi
transformando, o homem.
Ainda agora sinto admiração por este determinado John Travis que, contrariando a minha vontade, soube reinventar-se e conquistar um papel de relevo na trama que fui tecendo. Tal como a prostituta Teresa Belo, o John Travis é um bom exemplo de algo que nunca julguei ser possível: certos personagens imaginados terem vontade própria e imporem o seu caminho, o seu ritmo.
Eu sei, eu sei que parece mesmo impossível o que acabei de escrever mas… o John está aí para provar o contrário.
Ainda agora sinto admiração por este determinado John Travis que, contrariando a minha vontade, soube reinventar-se e conquistar um papel de relevo na trama que fui tecendo. Tal como a prostituta Teresa Belo, o John Travis é um bom exemplo de algo que nunca julguei ser possível: certos personagens imaginados terem vontade própria e imporem o seu caminho, o seu ritmo.
Eu sei, eu sei que parece mesmo impossível o que acabei de escrever mas… o John está aí para provar o contrário.
Contrariamente aos
restantes personagens, o John Travis teve um rosto ainda antes de escrever uma
linha sobre ele. Estava a ver a série Unit e um personagem encaixou
perfeitamente na imagem que construi para este rude mercenário. Senti que o
impiedoso Mack “Dirt Diver” Gerhardt, em permanente conflito consigo próprio e
com visível dificuldade em lidar com as emoções, tinha saltado das folhas do meu livro para se
juntar à unidade de elite norte americana.
O John Travis faz a sua aparição no capítulo sexto, um dos que me
saiu melhor. No entanto foi bem difícil de o terminar. A cerca de dois terços, a
escrita parou. Não sei se sabem mas estes momentos são piores que maus para um
aprendiz a escritor. Temos a ideia na cabeça, sabemos o que queremos escrever
mas… não sai nada. Foi exactamente quando uma pistola apontou à cabeça deste
gigante sul africano que a fonte secou. Nestas alturas o melhor é fechar a loja
e ir apanhar ar ou fazer outra coisa qualquer (menos tentar escrever, claro
está). O problema foi quando no dia seguinte também fiquei a olhar para a pistola apontada
à cabeça do John Travis e não havia maneira de me decidir a escrever.
Percebi então que o John precisava de uma música que lhe desse alma. Uma que fosse rebelde e forte como este mercenário. Meti-me no “metal” e percorri todo o espectro; desde o hard até ao dead ou ao trash. Por esta ou aquela razão nenhuma música servia. Ou seja, foi mais um dia desperdiçado para a escrita. No dia seguinte, a caminho da TAP, a Antena um presenteou-me com a música certa para o meu John. “How you remind me” de Nickelback tem tudo o que eu procurava e… bastante mais (realmente esta música ajudou a transformar a personagem ). Para além da força, rebeldia e desilusão, há um toque de romance… uma pitada de humanidade. Cá para mim era já o John Travis a lutar por um lugar cimeiro no elenco do livro…
Percebi então que o John precisava de uma música que lhe desse alma. Uma que fosse rebelde e forte como este mercenário. Meti-me no “metal” e percorri todo o espectro; desde o hard até ao dead ou ao trash. Por esta ou aquela razão nenhuma música servia. Ou seja, foi mais um dia desperdiçado para a escrita. No dia seguinte, a caminho da TAP, a Antena um presenteou-me com a música certa para o meu John. “How you remind me” de Nickelback tem tudo o que eu procurava e… bastante mais (realmente esta música ajudou a transformar a personagem ). Para além da força, rebeldia e desilusão, há um toque de romance… uma pitada de humanidade. Cá para mim era já o John Travis a lutar por um lugar cimeiro no elenco do livro…
Podem consultar a página do John Travis em: http://correiodearc.wix.com/terra#!__John
Escrevo algo que não me canso de sublinhar: utilizem umas boas colunas ou
uns auscultadores. Há imensa música no site e, francamente, o som dos
PCs, tablets, etc, é francamente mau (horrível, mesmo).
Caso
gostem deste site e do que estão a ler, divulguem pelos vossos amigos. É a
única forma de um desconhecido autor chegar a um público mais vasto. Os
endereços são: www.facebook.com/terraleve
ou
http://terraleve.blogspot.pt/.
ou
http://terraleve.blogspot.pt/.
E pronto, amigos. Em breve
estarei aqui para vos falar sobre a Annie.
Capítulo 23
UM ANO PARA O FIM
JOHN TRAVIS
CABINDA
Segunda feira, 21/Dez/2015, 10:00
A lua, cheia, destaca-se serena num céu estrelado, iluminando a estrada pejada de cadáveres. Moscas, ratazanas, mosquitos e uma miríade de vermes banqueteiam-se nos corpos despojados de qualquer dignidade. Mais tarde irão chegar as hienas e, por fim, algum casal de leões virá atraído pelo cheiro da carnificina.
Uma criança caminha entre os corpos, já seca de lágrimas choradas, embrutecida por uma realidade que não consegue abarcar. Caminha de forma mecânica, gemendo pela mãe, mera lamuria que perdeu o histerismo e mantém-se agora numa incessante repetição atordoada. Segue na direção da igreja, monumento silencioso enfeitado por um denso colar de corpos esventrados, cercando-a e profanando o seu interior, ignorando os santos recantos. Parcialmente escondido atrás da maciça porta de madeira, indiferente aos cadáveres que o cercam, um homem limpa uma enorme faca à camisa, preparando-a para um derradeiro corte.
Incapaz de se conter, salta do abrigo e corre na direção da criança num desesperado ato de redenção.
Infrutífera corrida, esta. O homem abandona a sombra do pórtico, e em vigorosas passadas acerca-se da criança, com a faca em posição de cumprir o seu mortífero desígnio.
Porém passa pela criança sem lhe tocar.
O alvo é outro.
Ergue o braço exibindo uma pistola, apontando-a na direção do John. A esta distancia tão curta o gigante Sul Africano sabe que não tem escapatória possível.
Olha para o tenebroso buraco apontado à sua cabeça e recorda-se de um jipe solitário em plena savana rolando sob um glorioso céu azul. Os turistas, alegres e ruidosos apesar dos seus incessantes pedidos ao silêncio, tem as máquinas fotográficas em punho , apontadas para o búfalo e para a girafa.
Quando a bala, fumegante, sai na sua direção, pensa pela milionésima vez que nunca deveria ter saído do Kruger.
Acorda a arfar, o corpo molhado em suor, apesar do ar condicionado estar a funcionar na perfeição. A companheira murmura-lhe palavras doces enquanto lhe passa um pano húmido pela face.
O massacre de Nyarubuye.
Nunca mais foi o mesmo desde então. Os fantasmas, todos os fantasmas dessa maldita noite povoam os seus sonhos com horrendas visões do inferno. A arfar, o coração está disparado numa cavalgada desenfreada.
Toma lentamente consciência dos lençóis que o envolvem, da Paula que o acalma e do inferno que é continuar vivo depois de Nyarubuye.
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