Caros Amigos,
Hoje adicionei um excerto sobre o Edward Choat ao site do livro ( www.correiodearc.wix.com/terra ),
ao blog (http://terraleve.blogspot.pt/ ) e ao facebook (www.facebook.com/terraleve).
Logo no início do livro damos com o pai da Annie, o misterioso
Edward Choat. O Edward foi das
personagens que mais trabalho me deu a moldar.
Não é nada fácil escrever sobre sofrimento, e o solitário Edward é um pai
que simplesmente não consegue ultrapassar a morte da sua filha. Uma boa parte da vida daquele pai terminou na explosão em Sevilha que
ceifou a vida da Annie. Edward continua a viver uma vida que perdeu muito do
seu sentido; transformou-se numa pessoa lacónica, imerso em recordações que
tenta desesperadamente preservar, anotando-as num caderninho que está sempre
com ele. Procura a companhia do Pedro e juntos, muitas vezes sem palavras,
apenas acompanhados por um tinto
alentejano tão ao agrado da Annie, mergulham longamente em saudosas recordações
que se prolongam até à partida do último barco para Boston.
Quando a personagem Edward "se chegava à frente", a escrita emperrava e eu
enchia-me de nervos. Mais que todos os outros personagens, precisava dar um
rosto ao Edward. As buscas na internet revelaram-se um fracasso total e percebi
que, mais que um rosto, o Edward precisava de uma pessoa, de um modelo onde
fosse “beber” a personalidade, os valores, as atitudes… enfim, onde me fosse
inspirar.
Lembro-me perfeitamente de um almoço no “Outra loiça” em Sacavém em que o João Oliveira falava e eu mal o ouvia, de tão embrulhado que estava com o personagem Edward. A páginas tantas dou por mim a ouvir com toda a tenção o que o João me contava sobre o filho. Depois recordei outras conversas dele, muito preocupado com o rapaz, na altura a trabalhar numa consultora em Portugal e a fazer infindáveis quilómetros de norte a sul do país. Subitamente percebi que tinha à minha frente o Edward Choat.
Quem conhece o alegre e extrovertido João Oliveira, certamente ficará incrédulo com esta escolha. Acontece que conheço muito bem este meu amigo e, por baixo da capa “espalha brasas” e “boa onda”, esconde-se uma pessoa nobre, com ideias e ideais muito estruturados, sensível, apaixonado e dedicado. Estes são traços de personalidade que definem o Edward Choat na perfeição.
Lembro-me perfeitamente de um almoço no “Outra loiça” em Sacavém em que o João Oliveira falava e eu mal o ouvia, de tão embrulhado que estava com o personagem Edward. A páginas tantas dou por mim a ouvir com toda a tenção o que o João me contava sobre o filho. Depois recordei outras conversas dele, muito preocupado com o rapaz, na altura a trabalhar numa consultora em Portugal e a fazer infindáveis quilómetros de norte a sul do país. Subitamente percebi que tinha à minha frente o Edward Choat.
Quem conhece o alegre e extrovertido João Oliveira, certamente ficará incrédulo com esta escolha. Acontece que conheço muito bem este meu amigo e, por baixo da capa “espalha brasas” e “boa onda”, esconde-se uma pessoa nobre, com ideias e ideais muito estruturados, sensível, apaixonado e dedicado. Estes são traços de personalidade que definem o Edward Choat na perfeição.
Edward Choat, tal como o João Oliveira, é um gentleman. Ambos vem de famílias com história, ambos são pessoas requintadas e ambos são
profundamente românticos. A música que
escolhi para eles deverá traduzir tudo isto; tem de ser distinta, requintada e
romântica. Moonlight serenade. Versão
Frank Sinatra. Conseguem imaginar
melhor?
Podem consultar a página do Edward Choat em:
http://correiodearc.wix.com/terra#!__edward
http://correiodearc.wix.com/terra#!__edward
Escrevo algo que não me canso de repetir: utilizem umas boas colunas ou uns auscultadores.
Há imensa música no site e, francamente, o som dos PCs, tablets, etc, é
francamente mau (horrível, mesmo).
Caso
gostem deste site e do que estão a ler, divulguem pelos vossos amigos. É a
única forma de um desconhecido autor chegar a um público mais vasto. Os
endereços são: www.facebook.com/terraleve ou http://terraleve.blogspot.pt/.
E pronto, amigos. Em breve
estarei aqui para vos falar sobre a Clara de Souza, a esposa do Inspetor
Frederico.
Capítulo 51
TRÊS MESES ANTES DO FIM
PEDRO LAGE
CAPE COD
Sábado, 17/Setembro/2016, 13:00
Ao longe, a esguia figura do Edward mantém-se imóvel de frente para as águas da baía. Pelo bando de gaivotas que quase o cercam, deve estar assim já há bastante tempo. O meu sogro tem sido visita assídua desde que cheguei a Cape Cod.
O Edward mexeu-se um pouco e as gaivotas mais perto esvoaçaram assustadas, contagiando o resto do bando. Entre a nuvem de gaivotas, consigo ver o meu sogro meter a mão dentro da eterna gabardina da Camel. Sei que irá tirar um caderninho de capa laranja para anotar mais uma recordação. Sinto um aperto no coração ao recordar a primeira vez que me falou neste caderninho. A máscara que normalmente afivela impediu-me de ler o seu estado de espírito; desconhecia o desespero em que tinha mergulhado.
- Diagnosticaram-me Alzeimer, Pedro – disse isto serenamente enquanto beberricava um Convento do Carmo de 83 e contemplava, lacónico, o sol que se punha atrás de ameaçadoras nuvens negras.
Há tempos falei-lhe no ritual que a Annie e eu tínhamos ao por do sol. Desde então providenciou que a minha garrafeira estivesse bem fornecida de bons tintos alentejanos.
- Restam-me as memórias da Annie, Pedro. E até isto me querem tirar.
Foi a primeira vez que abracei longamente um homem e, enquanto o sol se punha para lá do horizonte, fundimo-nos num emocionado amplexo, tentando não ceder ao desespero.
(...)
- Sabes que naquela casa.... aquela que está depois da duna grande, abriram um hotel? - pergunta enquanto poisa o Stetson e pendura o coçado sobretudo da Camel.
Ultimamente perco-me nas minhas recordações e não dei pela entrada do Edward. É um velho que tenho à minha frente. A vida deixou de fazer sentido para mim, confidenciou-me da primeira vez que me visitou. De vez em quando repete com o olhar perdido algures que a Annie era o seu futuro.
Outra vítima do Carlos Parreira.
- A Diana já não me aguenta, Pedro. Ás vezes nem eu me aguento a mim próprio. - diz enquanto encho os copos de um Convento do Carmo – Chama-me cobarde por virar as costas à vida.
À vida e à ilustre casa dos Choats repleta de histórias épicas e carradas de sucesso. Calculo a exasperação da minha sogra. No Olimpo os deuses não podem ser depressivos.
- Não julgues com demasiada rispidez a Diana – o Edward sempre foi muito bom a interpretar o que vai na minha mente – Talvez ela tenha razão, Pedro. Talvez esteja a ser um pouco cobarde. Mas sabes uma coisa? Estou-me nas tintas.Para todos eles. Vivo de recordações. Ou melhor, vivo para as recordações. O resto já deixou de me interessar. Realmente nunca interessou verdadeiramente.
Depois de um momento de silencio disse-me que não me via por Boston.
- Tens visitado a Annie?
Todos os dias querido Edward. Todos os dias. No entanto sabia que referia-se ao magnífico sarcófago que construiram na tumba dos Choats nos claustros da Catedral de Boston.
- Ela vive em mim, Edward – respondi suavemente enquanto tomava nota para ir a Boston de vez em quando visitar a tumba dos Choats.
Deu ideia de ter ficado satisfeito com a resposta e mudou de assunto.
- Da próxima vez vou ver a pousada atrás da duna mãe – era assim que a Annie chamava à duna onde contemplávamos o pôr do sol e tantas vezes fizemos amor à luz das estrelas.
Colocou o velho Stetson na cabeça e agarrou no sobretudo. Tinha de se apressar ou perdia o último barco para Boston. Olho para este homem derrotado pela vida e dou-lhe um forte abraço. Estamos unidos por um laço mais forte que a vida e ao ver o ar desamparado do meu sogro proferi uma jura silenciosa; tinha chegado a hora de o ajudar. De retribuir tudo o que fez por mim. Irei acolhê-lo durante os anos que ainda lhe restam, acolhê-lo quando o alzheimer varrer as suas memórias, ampará-lo na velhice e ambos celebrarmos as memorias da nossa Annie.
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