quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Radical Face - Always gold, Provincetown

UM QUASE CONTO POUCO EDIFICANTE:
O lance do presidente da Junta (parte 6 de 7)
(Continuação da semana anterior)




A manhã do Presidente da Junta piorou quando percebeu que a austera mulher que carregava o trombudo Vítor da Ti Zeza e uma negra mala de tenebroso aspeto era, para mal dos pecados da malta da vereação, uma Inspetora de algo que o colocou num pânico absoluto, descontrolando-lhe os tiques e tremeliques. Terá sido Atividades Económicas que o pobre Presidente ouviu?

Aparentemente a encomenda do Audi 6 e de outros carros de luxo para os vereadores,  despertou a curiosidade do monstro fiscal que tudo controla, tudo quer saber. Agora, olhando para o encavacado Vitor, o Presidente da Junta começa a suar. A suar e a tremelicar.

Quem normalmente mata o bicho com coiratos não desata a comer lagosta sem um bom motivo. Pelo menos para a omnipresente Autoridade Económica. Os bites, bytes e outras magias informáticas logo fizeram franzir o sobrolho digital do big brother fiscal, olhando desconfiado para o stand que encomenda agora carros de luxo quando antes se desunhava a vender um  lixo que fosse.  E mesmo esse, em segunda ou terceira mão.

Logo a máquina fiscal cuspiu a ordem digital  que agora esta seca mulher exibe a um cada vez mais nervoso e tiquento Presidente da Junta.

Do negro malão a ríspida mulher retira uma fina caixa de horrores. Por qualquer milagre divino e falta de cobertura wireless, aquela coisa ficou agradavelmente silenciosa. Mas a bonança foi de curta duração; recorrendo a meios já caídos em desuso na cidade, mas curiosamente de maior eficácia em Alforges de Cima, a seca criatura retira uma resma de papel  com a prova provada que ali andava marosca.

A incómoda questão colocada pela agente da Autoridade Económica prende-se com a proveniência do dinheiro para que o stand do Vitor da Ti Zéza tenha desatado a comprar carros de luxo como se não houvesse amanhã.

Por um segundo de puro pânico o Presidente da Junta temeu que o Vitor tivesse falado a esta cabra no fantástico investimento que Messiê Pierre de La Croix tem planeado. Soubesse ela disto e o pequeno consolo que espera retirar com o negócio, coisa mínima em negócios de milhões fadados a darem triliões, seria logo catalogado como coisa nojenta, transfigurado em acto vil, destinado a ser presa fácil dos abutres das televisões, rádios e jornais. Veja-se o Sócrates, meus caros, homem tão empreendedor e benfazejo onde agora está. Mas é claro que foi consolado por tamanho empreendedorismo que tanto deu à Lusa Nação.

Sem dúvida que tamanhos incentivos têm de ter o seu consolo. Sejam autoestradas a triplicar, essenciais submarinos para a defesa da lusa soberania, aviões velhos avaliados como novos  ou vendas de grandes empresas a pequenos Davids, escaqueirando-as de seguida. O doce consolo não tem cor nem partido. Conhece apenas o dono do dinheiro e o nome do facilitador que faz fluir o doce metal de um lado para outro.

O dinheiro parado, cria mofo. Há pois que fazê-lo rodopiar como um alegre vira minhoto. E qual gordo hipopótamo a saltitar de nenúfar em nenúfar, deve deslizar de uma mão para outra mão. E a cada saltito, a cada pouso no facilitador nenúfar, o benfazejo consolo lá vai escorregando para o bolso do empreendedor, transformando-se mais tarde no maravilhoso Audi A6 e recuperar a falida empresa familiar.

E assim a vida seguiria mais luzidia, alegre e risonha, não fora a cabra da Autoridade Económica mais o seu  tenebroso negro malão complicar a vida desta simpática vilória e, principalmente, a vida do cada vez mais tiquento Presidente da Junta.

- Agradeço que pare de piscar o olho para mim.

O azedume como a advertência foi proferida apenas aumentou os tiques do pobre homem, que jurou pelas alminhas de toda a família, a ausente Guidinha incluída, não ter feito tal coisa. E quanto mais o Presidente da Junta negava, quanto mais lhe piscava o olho, mais a austera inspetora se encrespava e mais acutilante se mostrava nas perguntas que despejava em catadupa.

Estavam estes dois numa renhida batalha campal de surdos mas com vozes bastante alteradas, quando Messiê Pierre entrou no gabinete presidencial. Apercebendo-se da delicada situação, logo colocou o sorriso mais radioso e numa nuvem de charme com tonalidades Chanel, Hermés e Vuitton, convidou-os para um singelo almoço que o meio do dia já há muito tinha sido dobrado. 

Pena que a nouvelle cuisine não tivesse chegado ainda  a Alforges de Cima. Nem a nova cozinha nem qualquer outra um pouco mais elaborada. Mas tal falta não foi obstáculo para o mundano de La Croix transformar os rojões da tasca do Norberto da Ti Leopoldina na iguaria regional mais aplaudida do distrito e o carrascão comprado na Miserela, em quase Cabernet Sauvignon nacional.

Entre uma garfada, um tintol e toneladas de charme, Messiê Pierre deixou cair na conversa, agora convenientemente amolecida, a sua benfazeja obra de caridade, o acolhimento e tratamento  das pobres crianças com o Síndrome de Down.

Foi uma oportuna chamada telefónica, segundo as más-línguas feita pelo seu motorista, que permitiu servir o seu santo projeto do Pierre de La Croix numa salva bendita, em pleno almoço de negócios.

E todo e qualquer assunto que estes convivas estivessem a falar,  esfumou-se perante tamanha obra caritativa.

Com a voz embargada, Pierre de La Croix confessou a alegria da notícia recebida: a sua caritativa obra acabara de acolher no seu seio mais oito pobres crianças enfermas dessa terrível fatalidade. Iluminado por qualquer santa luz, Messiê Pierre de La Croix partilhou de imediato os enormes investimentos que tem feito no estudo e pesquisa de uma cura ou pelo menos, de algo que atenue tamanho calvário às pobres criancinhas e respetivas famílias.

Subitamente a fria agente da Autoridade Económica soçobrou num mar de lágrimas e, soluçando, amanteigou o empedernido coração confessando também ela ter um filho que padece deste impiedoso mal. Magnânimo, compreensivo e solidário, logo Messiê Pierre de La Croix disponibilizou a sua benemérita obra, pagando inclusive quer a viagem, quer a estadia e todos os tratamentos que a pobre criança necessite.

Findo o almoço, após uma breve indecisão no momento de pagar o lauto almoço regional, Messiê Pierre de La Croix fez questão de ser ele próprio a levar a agradecida agente da Autoridade Económica à estação de comboios mais próxima. Aqueles dois parecem conhecer-se desde sempre, tal é a perfeita sintonia que sorrisos, vontades e atitudes foram valsando na tasca do Norberto da Ti Leopoldina. E fruto desta  perfeita harmonia, bastou à agente da Autoridade Económica a garantia dada pelo próprio Messiê Pierre de La Croix,   que toda a documentação necessária relativa à atividade do stand do Vítor da Ti Zéza,  seria prontamente enviada amanhã por correio registado. 

Tivessem estes dois olhado para trás e teriam visto a discreta discussão entre o Norberto da Ti Leopoldina e o Presidente da Junta. Um porque quer o dinheiro do repasto e o outro, já não o tendo, promete tudo pagar logo mais à noite. 

Sim, porque a decisão de Messiê Pierre só pode ser uma, por muito que os laços de sangue façam inclinar o tabuleiro para os manhosos de Alforges de Baixo. 





































LOCAIS ONDE SE PASSA A ACÇÃO

Provincetown - Cape Cod
(2º livro)














Pedro Lage
Médico emigrado em Boston. 

Regressa a Lisboa à procura de vingar a morte de sua esposa, Annie Choat.




















Annie Choat
Mulher de Pedro Lage. 

Morreu num atentado em Sevilha, quando uma bomba explodiu perto da Giralda.






















Teresa Belo
Prostituta de luxo com uma visão positiva, confiante e muito gratificante da vida. Não fosse a enorme  obsessão do Carlos Parreira por ela e, sim, era caso para dizer:

 la vie en rose.

























Sam Rilley (2º livro)
Viúva, mãe da Katty.
Muda-se de Fort Worth, Texas, para Cape Cod, Massachusetts , na esperança de refazer a sua vida.

Recupera uma velha mansão na praia. Uma festa na Igreja de Provincetown irá alterar radicalmente a sua vida.





















Katty Rilley (2º livro)

Filha da Sam. 

Com o inseparável Bob, o amigável pastor belga, calcorreia alegremente as praias de Cape Cod. Até ao dia em que dá com um homem solitário no topo da sua duna preferida.






















Clara de Souza (2º livro)
Esposa do Inspetor Frederico. 

Preocupada com a obsessão do marido pelo insolúvel caso de Sevilha, reúne todas as forças para lutar por ele, tentando resgatá-lo  do crescente alheamento que o atormenta. 




















Inspetor Frederico de Souza
Recentemente aposentado da PJ.
 Apesar de ter colaborado marginalmente no caso do atentado em Sevilha, a impunidade do ato leva-o a encetar uma obsessiva cruzada em busca da verdade.






















Chefe Mike (2º livro)
O chefe Mike tem uma boa vida na tranquila  Provincetown, e tem-na aproveitado ao máximo. A chegada de um forasteiro irá complicar muito a pacatez do bom Xerife.  E com ele surge o primeiro assassínio na pacífica povoação de  Cape Cod.































Miguel Lacerda
Inspetor da PJ. Desencantado com a vida, com a ex mulher e com a reforma que teima em fugir. 

A estranha ligação de um banqueiro assassinado a uma prostituta desaparecida ameaçam estragar o Natal cuidadosamente preparado com a sua filha.























Jota


Inspector criminal da DNIC Angolana. Coordena uma investigação em  Cabinda e tenta não saír chamuscado deste mediático caso.




























 Anselmo Munguambe
Ex inspetor criminal da DNIC Angolana. 
Vê-se envolvido numa investigação em  Cabinda. Tenta sem grande êxito esquecer o seu amante de Luanda, o Puto Zé.




















Kiese
Jovem agente da policia de Cabinda. 

Durante demasiado tempo investigou sozinho o caso das jovens desaparecidas. Com a chegada dos reforços vindos de Luanda, o seu equilíbrio ameaça desintegrar-se.




















Puto Zé

Para ele, a vida é uma festa. Ou melhor: muitas festas. Vive-a intensamente,

sem preocupações nem amarras. Um homem que nunca deixou se ser um puto.

























Carlos Parreira.
Psicopata e assassino, desenvolve uma forte obsessão pela Teresa Belo, uma prostituta de Luxo de Lisboa. Ex. mercenário. Atualmente responsável pela segurança da ELAD, a empresa angolana de lapidação de diamantes.



























 John Travis
Ex. mercenário  Sul Africano. 
Participou com o Carlos Parreira no massacre de Nyarubuye. Banido de uma força privada de segurança, procura junto do amigo um emprego na Elad, a empresa angolana de lapidação de diamantes.























Edward Choat (2º livro)
Pai da Annie. 

Devastado pela morte da filha, tenta preservar as memórias num caderninho que leva consigo para todo o lado.  Subitamente, numa visita ao Pedro Lage, o seu quotidiano sofre uma dramática alteração.
















Katty Rilley (2º livro)

Filha da Sam. 

Com o inseparável Bob, o amigável pastor belga, calcorreia alegremente as praias de Cape Cod. Até ao dia em que dá com um homem solitário no topo da sua duna preferida.



















Teresa Belo
Prostituta de luxo com uma visão positiva, confiante e muito gratificante da vida. Não fosse a enorme  obsessão do Carlos Parreira por ela e, sim, era caso para dizer:
 la vie en rose.
























Annie Choat
Mulher de Pedro Lage. 
Morreu num atentado em Sevilha, quando uma bomba explodiu perto da Giralda.

























Sam Rilley (2º livro)
Viúva, mãe da Katty.
Muda-se de Fort Worth, Texas, para Cape Cod, Massachusetts , na esperança de refazer a sua vida.

Recupera uma velha mansão na praia. Uma festa na Igreja de Provincetown irá alterar radicalmente a sua vida.



















Pedro Lage
Médico emigrado em Boston. 
Regressa a Lisboa à procura de vingar a morte de sua esposa, Annie Choat.











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