quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Houndmouth - Say it Guarda, Aldeia Viçosa



UM QUASE CONTO POUCO EDIFICANTE:
O lance do presidente da Junta (parte 5 de 7)

(Continuação da semana anterior)



E o dia do grande acontecimento em Alforges de Cima amanheceu bastante  nublado. 

O primeiro pingo de chuva caiu quando o Tonico da Jacinta, sempre madrugador,  arrastava o sacão dos foguetes em direção ao Largo do Pelourinho. Como prenuncio, convenhamos, não era dos mais animadores.

Acontece que a aldeia, em festa antecipada, não se preocupou com estas minudências mais ou menos transcendentais. Por Alforges de Cima as previsões fazem-se antes do jogo, e as finais, como os filhos da terra bem sabem, são para ganhar. Nomeadamente aquelas que opõem as duas Alforges e, principalmente, quando estão em causa os automóveis de luxo e os desastrados negócios dos Vereadores da Junta.

Outro prenúncio de qualidade duvidosa é a cara de caso do Vítor da Ti Zéza, o adjunto do Presidente, e proprietário do stand donde surgirá o magnífico Audi A6, tão desejado pelo nosso herói. 

O homem arrasta-se na direção do stressado Presidente da Junta como um burro renitente ou,  muito pior, como se tivesse de pagar ainda hoje o endividamento que contraiu há dois dias  para embelezar o donativo para a benemérita obra do Messiê de La Croix.  Um autentico esforço de guerra, chegou a gritar na altura o tiquento Presidente da Junta, talvez pensando no seu Audi A6 a esfumar-se perante, ai que Deus nos valha!, uma proposta mais atraente, parida pelos manhosos de Alforges de Baixo.

O renitente Vitor da Ti  Zéza estava a ser praticamente arrastado por uma desconhecida mulher vestida com um sóbrio fato cinzento escuro. Para além de arrastar o  contrariado Vitor,  a sorumbática mulher arrasta igualmente um malão negro com rodas. Ao Presidente da Junta, talvez pela carranca do Vitor ou pelos pingos que insistem em cair, a mulher e o negro malão de rodas provocaram-lhe calafrios na espinha. Daquele lado tão sombrio nada de bom se espera. E olhando para este sorumbático par, os tiques e tremeliques do Presidente da Junta intensificaram-se visivelmente, assustando os bons alfogerences que por ali passavam.

Deva dizer-se em abono da verdade que o amanhecer foi mesmo madrasto para o tiquento Presidente da Junta.
Hoje, logo hoje que  caminha com a consciência corroída pela culpa, hoje, o dia de todos os milagres, é que deu de caras com o Prior.

O pobre Presidente da Junta estava a dar o seu melhor para ocultar o turbilhão de sentimentos que vibram dentro de si.  A sua consciência, qual cabo das tormentas, não para de gritar promessas de fogo e de inferno e a culpa, essa imensa culpa, martela furiosamente dentro de si provocando um enorme alarido nos assustados neurónios. Enfim, por vezes a vida não é nada fácil e o Presidente da Junta tenta disfarçar o mal estar que se agiganta num sorriso que nada tem de alegre.

Talvez os seus esforçados  intentos tivessem sucesso, não fora ter esbarrado com o arguto olhar do prior.
E a verdade é que foi o imenso rubor que denunciou as solitárias atividades noturnas do Presidente da Junta.
Simplesmente o pobre homem não aguentou por mais tempo a ausência da D. Guida e o stress, esse imenso nervoso miudinho que não para de desassossegar as suas partes pudengas, acabou por levar a melhor na solidão noturna.  Se é verdade que a carne é fraca, convém enaltecer a férrea vontade do Presidente da Junta em ter-se mantido no caminho do bem e da pureza, após a súbita partida da esposa.

Infelizmente este casto caminho, com tanto stress que tem de aguentar, transformou-se numa intransponível montanha repleta de espinhos, cascas de banana e outras armadilhas. Ontem à noite a carne foi fraca, deliciosamente fraca,  e o atormentado Presidente da Junta sucumbiu  ao menor dos pecados que tem atormentado o seu triste existir.

Se o homem foi capaz de resistir aos prazeres do Bataclã e ao terno sorriso do Júlio,  já quanto à marota mão direita, a conversa foi outra. Como o povo diz, a ocasião faz o ladrão e finalmente o atormentado Presidente da Junta satisfez-se solitariamente na fria cama de casal.

E tendo pecado uma vez, sentindo-se perdido por mil, acalmou as suas tremuras  satisfazendo-se várias vezes ao longo da noite.

- Pecador! – Vocifera agora o arguto Prior para susto de uns quantos bons aldeões. – Afinal sempre foste contaminado pelo pecado e infetado pela luxúria!

A verdade é que o Prior vociferou muito mais coisas, mas o que Alforges de Cima reteve das iradas palavras do padre foi que o Presidente da Junta está possuído pelo tal vírus dos tiques e tremeliques que também afetou o terno Júlio e mais meia dúzia de impressionáveis aldeões.

Houve quem dissesse que o homem já pouco tinha de humano, e a extrema palidez ao afastar-se do Prior elevou-o à categoria de zombie para uns e de alma penada, para outros. Para muitos a conclusão foi unânime: o vírus dos tiques e tremeliques está a limpar o sebo ao Presidente da junta e, certamente, muitos mais aldeões de Alforges de Cima prestarão brevemente contas ao Criador.

E pelas sábias palavras do Prior ficou provado que a religião por uma vez suplantou a ciência. Num súbito alvoroço  logo ali ficou determinada a origem demoníaca de tal maleita.

Assim,  quando o acabrunhado Presidente da Junta entra no edifício, após estranho rebuliço e muitos Ai Jesus! e Vá-de retro Satanás!,  não vê ninguém ao seu redor.

Um pouco mais tarde, já no café do Ruivo e após debandada geral, fica sozinho ao balcão, apenas na companhia dos seus tiques e tremeliques. O próprio Ruivo, o seu palavroso compadre  de muitas guerras bandidas, hoje foi de poucas falas e escapuliu-se rapidamente dali para fora, nem aceitando as moedinhas da bica.

O homem parece que viu o demo, pensou o pobre Presidente da Junta. Nem percebeu porque Ruivo agarrou logo num crucifixo, benzeu-se mais nervoso que um porco a ir para a matança, e tapou a boca e o nariz com um farrapo bastante seboso. 

Coisa muito estranha para um homem tão somítico e recatado como é o Ruivo!




















Aqui vai o co








(Bonus - dedicado à Paula Cabrita, uma assídua e muito interventiva  leitora do meu blog ) 









LOCAIS ONDE SE PASSA A ACÇÃO


ALDEIA VIÇOSA
(2º LIVRO)

















Jota


Inspector criminal da DNIC Angolana. Coordena uma investigação em  Cabinda e tenta não saír chamuscado deste mediático caso.
















Carlos Parreira.
Psicopata e assassino, desenvolve uma forte obsessão pela Teresa Belo, uma prostituta de Luxo de Lisboa. Ex. mercenário. Atualmente responsável pela segurança da ELAD, a empresa angolana de lapidação de diamantes.


















Anselmo Munguambe
Ex inspetor criminal da DNIC Angolana. 

Vê-se envolvido numa investigação em  Cabinda. Tenta sem grande êxito esquecer o seu amante de Luanda, o Puto Zé.

















Puto Zé

Para ele, a vida é uma festa. Ou melhor: muitas festas. Vive-a intensamente,

sem preocupações nem amarras. Um homem que nunca deixou se ser um puto.

















Kiese
Jovem agente da policia de Cabinda. 

Durante demasiado tempo investigou sozinho o caso das jovens desaparecidas. Com a chegada dos reforços vindos de Luanda, o seu equilíbrio ameaça desintegrar-se.




















John Travis
Ex. mercenário  Sul Africano. 

Participou com o Carlos Parreira no massacre de Nyarubuye. Banido de uma força privada de segurança, procura junto do amigo um emprego na Elad, a empresa angolana de lapidação de diamantes.











Pedro Lage
Médico emigrado em Boston. 

Regressa a Lisboa à procura de vingar a morte de sua esposa, Annie Choat.
























Sam Rilley (2º livro)
Viúva, mãe da Katty.
Muda-se de Fort Worth, Texas, para Cape Cod, Massachusetts , na esperança de refazer a sua vida.

Recupera uma velha mansão na praia. Uma festa na Igreja de Provincetown irá alterar radicalmente a sua vida.

















Teresa Belo
Prostituta de luxo com uma visão positiva, confiante e muito gratificante da vida. Não fosse a enorme  obsessão do Carlos Parreira por ela e, sim, era caso para dizer:

 la vie en rose.

















Annie Choat
Mulher de Pedro Lage. 

Morreu num atentado em Sevilha, quando uma bomba explodiu perto da Giralda.























Katty Rilley (2º livro)

Filha da Sam. 

Com o inseparável Bob, o amigável pastor belga, calcorreia alegremente as praias de Cape Cod. Até ao dia em que dá com um homem solitário no topo da sua duna preferida.



















Miguel Lacerda
Inspetor da PJ. Desencantado com a vida, com a ex mulher e com a reforma que teima em fugir. 

A estranha ligação de um banqueiro assassinado a uma prostituta desaparecida ameaçam estragar o Natal cuidadosamente preparado com a sua filha.












Inspetor Frederico de Souza
Recentemente aposentado da PJ.
 Apesar de ter colaborado marginalmente no caso do atentado em Sevilha, a impunidade do ato leva-o a encetar uma obsessiva cruzada em busca da verdade.
















Clara de Souza (2º livro)
Esposa do Inspetor Frederico. 

Preocupada com a obsessão do marido pelo insolúvel caso de Sevilha, reúne todas as forças para lutar por ele, tentando resgatá-lo  do crescente alheamento que o atormenta. 






















Gianpiero Bozzo
Banqueiro e um dos chefes da Máfia americana. 
Adotou o Pedro Lage quando este, numa arriscada intervenção cirúrgica ao cérebro,  salvou o seu filho único de uma morte certa.

 Trata por filha a Annie Choat e jurou vingar a sua morte.
























Edward Choat (2º livro)
Pai da Annie. 

Devastado pela morte da filha, tenta preservar as memórias num caderninho que leva consigo para todo o lado.  Subitamente, numa visita ao Pedro Lage, o seu quotidiano sofre uma dramática alteração.




















Anselmo Munguambe
Ex inspetor criminal da DNIC Angolana. 
Vê-se envolvido numa investigação em  Cabinda. Tenta sem grande êxito esquecer o seu amante de Luanda, o Puto Zé.






















Chefe Mike (2º livro)
O chefe Mike tem uma boa vida na tranquila  Provincetown, e tem-na aproveitado ao máximo. A chegada de um forasteiro irá complicar muito a pacatez do bom Xerife.  E com ele surge o primeiro assassínio na pacífica povoação de  Cape Cod.























Kiese
Jovem agente da policia de Cabinda. 

Durante demasiado tempo investigou sozinho o caso das jovens desaparecidas. Com a chegada dos reforços vindos de Luanda, o seu equilíbrio ameaça desintegrar-se.


























Padre Thomas (2º livro)
Cedo o bom padre Thomas desenvolve uma tranquila amizade com o Pedro Lage. O convite que fez ao Pedro para abrilhantar uma festa na sua paróquia irá desencadear um conjunto de ações que nenhum poderia suspeitar.























Katty Rilley (2º livro)

Filha da Sam. 

Com o inseparável Bob, o amigável pastor belga, calcorreia alegremente as praias de Cape Cod. Até ao dia em que dá com um homem solitário no topo da sua duna preferida.




















Teresa Belo
Prostituta de luxo com uma visão positiva, confiante e muito gratificante da vida. Não fosse a enorme  obsessão do Carlos Parreira por ela e, sim, era caso para dizer:

 la vie en rose.

















Annie Choat
Mulher de Pedro Lage. 

Morreu num atentado em Sevilha, quando uma bomba explodiu perto da Giralda.



















Pedro Lage
Médico emigrado em Boston. 
Regressa a Lisboa à procura de vingar a morte de sua esposa, Annie Choat.


















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