UM QUASE CONTO POUCO
EDIFICANTE:
O lance do presidente
da Junta (parte 5 de 7)
(Continuação da semana
anterior)
E o dia do grande acontecimento em Alforges de
Cima amanheceu bastante nublado.
O primeiro pingo de chuva caiu quando o Tonico
da Jacinta, sempre madrugador, arrastava
o sacão dos foguetes em direção ao Largo do Pelourinho. Como prenuncio,
convenhamos, não era dos mais animadores.
Acontece que a aldeia, em festa antecipada, não
se preocupou com estas minudências mais ou menos transcendentais. Por Alforges
de Cima as previsões fazem-se antes do jogo, e as finais, como os filhos da
terra bem sabem, são para ganhar. Nomeadamente aquelas que opõem as duas
Alforges e, principalmente, quando estão em causa os automóveis de luxo e os
desastrados negócios dos Vereadores da Junta.
Outro prenúncio de qualidade duvidosa é a cara
de caso do Vítor da Ti Zéza, o adjunto do Presidente, e proprietário do stand
donde surgirá o magnífico Audi A6, tão desejado pelo nosso herói.
O homem arrasta-se na direção do stressado
Presidente da Junta como um burro renitente ou,
muito pior, como se tivesse de pagar ainda hoje o endividamento que
contraiu há dois dias para embelezar o
donativo para a benemérita obra do Messiê de La Croix. Um autentico esforço de guerra, chegou a
gritar na altura o tiquento Presidente da Junta, talvez pensando no seu Audi A6
a esfumar-se perante, ai que Deus nos valha!, uma proposta mais atraente,
parida pelos manhosos de Alforges de Baixo.
O renitente Vitor da Ti Zéza estava a ser praticamente arrastado por
uma desconhecida mulher vestida com um sóbrio fato cinzento escuro. Para além
de arrastar o contrariado Vitor, a sorumbática mulher arrasta igualmente um
malão negro com rodas. Ao Presidente da Junta, talvez pela carranca do Vitor ou
pelos pingos que insistem em cair, a mulher e o negro malão de rodas
provocaram-lhe calafrios na espinha. Daquele lado tão sombrio nada de bom se
espera. E olhando para este sorumbático par, os tiques e tremeliques do
Presidente da Junta intensificaram-se visivelmente, assustando os bons
alfogerences que por ali passavam.
Deva dizer-se em abono da verdade que o
amanhecer foi mesmo madrasto para o tiquento Presidente da Junta.
Hoje, logo hoje que caminha com a consciência corroída pela
culpa, hoje, o dia de todos os milagres, é que deu de caras com o Prior.
O pobre Presidente da Junta estava a dar o seu
melhor para ocultar o turbilhão de sentimentos que vibram dentro de si. A sua consciência, qual cabo das tormentas,
não para de gritar promessas de fogo e de inferno e a culpa, essa imensa culpa,
martela furiosamente dentro de si provocando um enorme alarido nos assustados
neurónios. Enfim, por vezes a vida não é nada fácil e o Presidente da Junta
tenta disfarçar o mal estar que se agiganta num sorriso que nada tem de alegre.
Talvez os seus esforçados intentos tivessem sucesso, não fora ter
esbarrado com o arguto olhar do prior.
E a verdade é que foi o imenso rubor que
denunciou as solitárias atividades noturnas do Presidente da Junta.
Simplesmente o pobre homem não aguentou por mais
tempo a ausência da D. Guida e o stress, esse imenso nervoso miudinho que não
para de desassossegar as suas partes pudengas, acabou por levar a melhor na
solidão noturna. Se é verdade que a
carne é fraca, convém enaltecer a férrea vontade do Presidente da Junta em
ter-se mantido no caminho do bem e da pureza, após a súbita partida da esposa.
Infelizmente este casto caminho, com tanto
stress que tem de aguentar, transformou-se numa intransponível montanha repleta
de espinhos, cascas de banana e outras armadilhas. Ontem à noite a carne foi
fraca, deliciosamente fraca, e o
atormentado Presidente da Junta sucumbiu
ao menor dos pecados que tem atormentado o seu triste existir.
Se o homem foi capaz de resistir aos prazeres do
Bataclã e ao terno sorriso do Júlio, já
quanto à marota mão direita, a conversa foi outra. Como o povo diz, a ocasião
faz o ladrão e finalmente o atormentado Presidente da Junta satisfez-se
solitariamente na fria cama de casal.
E tendo pecado uma vez, sentindo-se perdido por
mil, acalmou as suas tremuras
satisfazendo-se várias vezes ao longo da noite.
- Pecador! – Vocifera agora o arguto Prior para
susto de uns quantos bons aldeões. – Afinal sempre foste contaminado pelo
pecado e infetado pela luxúria!
A verdade é que o Prior vociferou muito mais
coisas, mas o que Alforges de Cima reteve das iradas palavras do padre foi que
o Presidente da Junta está possuído pelo tal vírus dos tiques e tremeliques que
também afetou o terno Júlio e mais meia dúzia de impressionáveis aldeões.
Houve quem dissesse que o homem já pouco tinha
de humano, e a extrema palidez ao afastar-se do Prior elevou-o à categoria de
zombie para uns e de alma penada, para outros. Para muitos a conclusão foi
unânime: o vírus dos tiques e tremeliques está a limpar o sebo ao Presidente da
junta e, certamente, muitos mais aldeões de Alforges de Cima prestarão
brevemente contas ao Criador.
E pelas sábias palavras do Prior ficou provado
que a religião por uma vez suplantou a ciência. Num súbito alvoroço logo ali ficou determinada a origem demoníaca
de tal maleita.
Assim,
quando o acabrunhado Presidente da Junta entra no edifício, após
estranho rebuliço e muitos Ai Jesus!
e Vá-de retro Satanás!, não vê ninguém ao seu redor.
Um pouco mais tarde, já no café do Ruivo e após
debandada geral, fica sozinho ao balcão, apenas na companhia dos seus tiques e
tremeliques. O próprio Ruivo, o seu palavroso compadre de muitas guerras bandidas, hoje foi de
poucas falas e escapuliu-se rapidamente dali para fora, nem aceitando as
moedinhas da bica.
O homem parece que viu o demo, pensou o pobre
Presidente da Junta. Nem percebeu porque Ruivo agarrou logo num crucifixo,
benzeu-se mais nervoso que um porco a ir para a matança, e tapou a boca e o
nariz com um farrapo bastante seboso.
Coisa muito estranha para um homem tão
somítico e recatado como é o Ruivo!
(Bonus - dedicado à Paula Cabrita, uma assídua e muito interventiva leitora do meu blog )
LOCAIS ONDE SE PASSA A ACÇÃO
ALDEIA VIÇOSA
(2º LIVRO)
(2º LIVRO)
Jota
Inspector
criminal da DNIC Angolana. Coordena uma investigação em
Cabinda e tenta não saír chamuscado deste mediático caso.
Carlos
Parreira.
Psicopata
e assassino, desenvolve uma forte obsessão pela Teresa Belo, uma
prostituta de Luxo de Lisboa. Ex. mercenário. Atualmente
responsável pela segurança da ELAD, a empresa angolana de lapidação
de diamantes.
Anselmo
Munguambe
Ex
inspetor criminal da DNIC Angolana.
Vê-se
envolvido numa investigação em Cabinda. Tenta sem grande
êxito esquecer o seu amante de Luanda, o Puto Zé.
Puto
Zé
Para
ele, a vida é uma festa. Ou melhor: muitas festas. Vive-a
intensamente,
sem preocupações nem
amarras. Um homem que nunca deixou se ser um puto.
Kiese
Jovem
agente da policia de Cabinda.
Durante
demasiado tempo investigou sozinho o caso das jovens desaparecidas.
Com a chegada dos reforços vindos de Luanda, o seu equilíbrio
ameaça desintegrar-se.
John
Travis
Ex.
mercenário Sul Africano.
Participou
com o Carlos Parreira no massacre de Nyarubuye. Banido de uma força
privada de segurança, procura junto do amigo um emprego na Elad, a
empresa angolana de lapidação de diamantes.
Pedro
Lage
Médico
emigrado em Boston.
Regressa
a Lisboa à procura de vingar a morte de sua esposa, Annie Choat.
Sam
Rilley (2º
livro)
Viúva,
mãe da Katty.
Muda-se
de Fort Worth, Texas, para Cape Cod, Massachusetts , na esperança de
refazer a sua vida.
Recupera
uma velha mansão na praia. Uma festa na Igreja de Provincetown irá
alterar radicalmente a sua vida.
Teresa
Belo
Prostituta
de luxo com uma visão positiva, confiante e muito gratificante da
vida. Não fosse a enorme obsessão do Carlos Parreira por ela
e, sim, era caso para dizer:
la
vie en rose.
Annie
Choat
Mulher
de Pedro Lage.
Morreu
num atentado em Sevilha, quando uma bomba explodiu perto da Giralda.
Katty
Rilley (2º livro)
Filha
da Sam.
Com
o inseparável Bob, o amigável pastor belga, calcorreia alegremente
as praias de Cape Cod. Até ao dia em que dá com um homem solitário
no topo da sua duna preferida.
Miguel
Lacerda
Inspetor
da PJ. Desencantado com a vida, com a ex mulher e com a reforma que
teima em fugir.
A
estranha ligação de um banqueiro assassinado a uma prostituta
desaparecida ameaçam estragar o Natal cuidadosamente preparado com a
sua filha.
Inspetor
Frederico de Souza
Recentemente
aposentado da PJ.
Apesar
de ter colaborado marginalmente no caso do atentado em Sevilha, a
impunidade do ato leva-o a encetar uma obsessiva cruzada em busca da
verdade.
Clara
de Souza (2º
livro)
Esposa
do Inspetor Frederico.
Preocupada
com a obsessão do marido pelo insolúvel caso de Sevilha, reúne
todas as forças para lutar por ele, tentando resgatá-lo do
crescente alheamento que o atormenta.
Gianpiero
Bozzo
Banqueiro
e um dos chefes da Máfia americana.
Adotou
o Pedro Lage quando este, numa arriscada intervenção cirúrgica ao
cérebro, salvou o seu filho único de uma morte certa.
Trata
por filha a Annie Choat e jurou vingar a sua morte.
Edward
Choat (2º
livro)
Pai
da Annie.
Devastado
pela morte da filha, tenta preservar as memórias num caderninho que
leva consigo para todo o lado. Subitamente, numa visita ao
Pedro Lage, o seu quotidiano sofre uma dramática alteração.
Anselmo Munguambe
Ex inspetor criminal da DNIC Angolana.
Vê-se envolvido numa investigação em Cabinda. Tenta sem grande êxito esquecer o seu amante de Luanda, o Puto Zé.
Chefe
Mike (2º livro)
O
chefe Mike tem uma boa vida na tranquila Provincetown, e tem-na
aproveitado ao máximo. A chegada de um forasteiro irá complicar
muito a pacatez do bom Xerife. E com ele surge o primeiro
assassínio na pacífica povoação de Cape Cod.
Kiese
Jovem agente da policia de Cabinda.
Durante demasiado tempo investigou sozinho o caso das jovens desaparecidas. Com a chegada dos reforços vindos de Luanda, o seu equilíbrio ameaça desintegrar-se.
Padre
Thomas (2º
livro)
Cedo
o bom padre Thomas desenvolve uma tranquila amizade com o Pedro Lage.
O convite que fez ao Pedro para abrilhantar uma festa na sua paróquia
irá desencadear um conjunto de ações que nenhum poderia suspeitar.
Katty
Rilley (2º livro)
Filha
da Sam.
Com
o inseparável Bob, o amigável pastor belga, calcorreia alegremente
as praias de Cape Cod. Até ao dia em que dá com um homem solitário
no topo da sua duna preferida.
Teresa
Belo
Prostituta
de luxo com uma visão positiva, confiante e muito gratificante da
vida. Não fosse a enorme obsessão do Carlos Parreira por ela
e, sim, era caso para dizer:
la
vie en rose.
Annie
Choat
Mulher
de Pedro Lage.
Morreu
num atentado em Sevilha, quando uma bomba explodiu perto da Giralda.
Pedro
Lage
Médico
emigrado em Boston.
Regressa
a Lisboa à procura de vingar a morte de sua esposa, Annie Choat.
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