UM QUASE CONTO POUCO EDIFICANTE:
O lance do presidente da Junta (parte 4 de 7)
( continuação da semana anterior)
Desesperado
com a ausência da D. Guida, o Presidente da Junta de alforges de Cima procura
orientação junto do Prior. Num murmúrio envergonhado conta-lhe o enorme efeito que
o stress lhe causa, potenciando a sua energia sexual para níveis
insuportavelmente elevados.
-
E logo agora que a minha Guidinha está para longe, senhor padre!
É
certo que nunca o Presidente da Junta, por mais necessitado que esteja, entrará nesse antro do demónio e do vício
que é o Bataclã. Mas este enorme desejo
insatisfeito vai minando a vontade e então, quase a medo, com um incómodo rubor
a tingir-lhe as nervosas bochechas, pergunta ao prior se é pecado esvaziar tamanha
energia que o enlouquece através de ações solitárias.
Ao
ouvir tal pergunta o Prior, talvez por inveja ou por rígidos ditames sagrados,
prega um vibrante sermão ao angustiado Presidente da Junta de Alforges de Cima.
-
O corpo de cada um é um templo sagrado e não uma feira de distrações – quase
vocifera o bom Prior- Além do mais está cientificamente provado que a
masturbação favorece o aparecimento do cancro, desregula a tiroide e causa
cirrose hepática. E não se esqueça que essa prática do demo é uma auto estrada
para a homossexualidade.
Conclui
o irado monólogo com um seco:
-
Além do mais, é um pecado grave.
Não
satisfeito com tão veemente preleção, acrescenta ainda de dedo em riste para o
infeliz Presidente da Junta:
-
E livre-se de amanhã me aparecer na missa para comungar, meu caro. Só de pensar
nessas atividades solitárias você já está a pecar.
Foi
precisamente nesta altura que começaram os tiques ao Presidente da Junta.
Se
a maioria da população se condoeu com o súbito estado trémulo e tiquento do
Presidente da Junta, aquele insistente piscar do olho esquerdo e a forma algo
efeminada como o stressado homem encolhe o ombro direito, foi mal interpretada
pelo Júlio, o vereador da Cultura.
Na
antevéspera de Messiê De La Croix divulgar ao mundo a sua decisão, conhecer-se qual a
vila a beneficiar do fabuloso investimento, o Júlio finalmente arranja coragem e
convida o tiquento Presidente da Junta para um singelo e íntimo jantar em sua
casa. Fê-lo numa voz esganiçada pelo nervoso miudinho que subitamente se fez
sentir, e os calores, apesar do inverno correr inclemente, tornaram rosa clara
a delicada pele do Júlio. O persistente piscar de olhos bem como o erótico
encolher de ombros do Presidente da Junta, foram a melhor resposta que o Vereador
da Cultura pôde ter.
Afadigou-se
o Júlio no arrumo da casa, no aprumo da refeição e nas velas que acendeu com
excitação crescente. E foi num estado de nervos imenso que acorreu à porta
quando da seráfica campainha fez o tilim mais promissor da vida do Vereador da Cultura.
E
se os nervos do afogueado Júlio acalmaram com o sedutor encolher de ombros do
Presidente da Junta, rapidamente foram substituídos pela excitação ao
contemplar o insistente piscar de olhos do seu amado. E aos tiques e
tremeliques do Presidente da Junta respondeu o Júlio com olhares profundos e
íntimos sorrisos. E a conversa foi correndo fácil, tal como o vinho a jorrar,
abundante, das garrafas para os copos e destes para as bocas, umas sorridentes,
outras tiquentas, ambas muito ávidas.
Ia
longo o jantar e o Júlio entre um tique e um olhar mais profundo, cobriu
ternamente a mão do Presidente da Junta e numa voz rouca, num delicioso afôgo fremente de desejo, lhe confessou todo o amor
aprisionado, recalcado, proibido.
Levantou-se
o Presidente da Junta demasiado atónito para proferir uma palavra que fosse,
piscando e tremelicando como um louco. E o Júlio, agora liberto das amarras de
qualquer culpa ou vergonha, levanta-se também e aproxima-se do horrorizado
homem.
Dolorosamente
desfeito o engano, o Presidente da Junta apareceu no dia seguinte com os tiques e tremeliques muito mais acentuados.
O
alarme espalhou-se pela população quando se soube que o Júlio também
apresentava os mesmos sintomas, talvez agravados pela vermelhidão do rosto e por
um curioso olhar esquivo, como se o homem carregasse alguma culpa.
Logo
vozes alarmadas se ergueram entre os aldeões e o centro de saúde encheu-se de
gente a piscar os olhos, encolher ombros e andar de forma esquisita; o vírus
dos tiques que se dissemina pelo ar, tinha atacado forte e feio a pequena
Alforges de Cima.
Outras
vozes, estas mais beatas mas igualmente aflitas, clamaram serem tais tiques e tremeliques
obra do demo. Choram os beatos aldeões em sentidas ladainhas que esses tiques e tremeliques são maldições por
tamanha ganancia que corrompe e macula as almas dos bons aldeões de Alforges de
Cima.
Logo o Prior declarou uma procissão à volta da Igreja e entre murmuradas avé-marias e padre-nossos nasce a confiança que do Céu irá surgir o benfazejo perdão e clemencia para com as almas pecadoras.
Logo o Prior declarou uma procissão à volta da Igreja e entre murmuradas avé-marias e padre-nossos nasce a confiança que do Céu irá surgir o benfazejo perdão e clemencia para com as almas pecadoras.
Felizmente
amanhã à tarde Monsieur De La Croix vai anunciar a aldeia vencedora.
Todo este pesadelo terá um fim e o Presidente da Junta de Alforges de Cima poderá finalmente esvaziar todo o seu stress na sua mui amada esposa, D. Guidinha.
Todo este pesadelo terá um fim e o Presidente da Junta de Alforges de Cima poderá finalmente esvaziar todo o seu stress na sua mui amada esposa, D. Guidinha.
LOCAIS ONDE SE PASSA A ACÇÃO
SEVILHA
BAIRRO STA. CRUZ, GIRALDA
Teresa Belo
BAIRRO STA. CRUZ, GIRALDA
John Travis
Ex. mercenário Sul Africano.
Participou com o Carlos Parreira no massacre de Nyarubuye. Banido de uma força
privada de segurança, procura junto do amigo um emprego na Elad, a empresa
angolana de lapidação de diamantes.
Jota
Inspector
criminal da DNIC Angolana, é deslocado para Cabinda onde colabora na
investigação das jovens assassinadas.
Teresa Belo
Prostituta
de luxo com uma visão positiva, confiante e muito gratificante da
vida. Não fosse a enorme obsessão do Carlos Parreira por ela e,
sim, era caso para dizer: la vie en rose.
Pedro Lage
Medico emigrado em Boston, regressa a
Lisboa à procura de vingar a morte de sua esposa, Annie Choat.
Inspetor
Frederico de Souza
Apesar de ter colaborado marginalmente no caso do atentado em
Sevilha, a impunidade do ato leva-o a encetar uma obsessiva cruzada em busca da
verdade.
Annie Choat
Mulher de Pedro Lage, morreu num atentado
em Sevilha, quando uma bomba explodiu perto da Giralda.
Anselmo
Munguambe
Ex inspector criminal da DNIC Angolana, vê-se envolvido numa
investigação em Cabinda. Tenta sem grande êxito esquecer o seu amante de
Luanda, o Puto Zé.
Carlos Parreira
Psicopata
e assassino, desenvolve uma forte obsessão pela Teresa Belo, uma prostituta de
Luxo de Lisboa. Ex. mercenário.
Atualmente responsável pela segurança da ELAD, a empresa angolana de
lapidação de diamantes.
Sam Rilley (2º livro)
Viúva, muda-se de Fort Worth, Texas, para Cape Cod, Massachusetts
, na esperança de refazer a sua vida. Recupera uma velha mansão em Cape Cod.
Uma festa na Igreja de Provincetown irá alterar radicalmente a sua vida.
Miguel Lacerda
Inspetor
da PJ. Desencantado com a vida, com a ex
mulher e com a reforma que teima em fugir. A estranha ligação de um banqueiro
assassinado a uma prostituta desaparecida ameaçam estragar o Natal
cuidadosamente preparado com a sua filha.
Edward Choat (2º livro)
Pai da Annie. Devastado pela morte da filha, tenta preservar as
memórias num caderninho que leva consigo para todo o lado.
Kattie Rilley (2º livro)
Filha de
Sam. Com o inseparável Bob, o amigável pastor belga, calcorreia alegremente as
praias de Cape Cod. Até ao dia em que dá com um homem no topo da sua duna
preferida.
Puto
Zé
Para
ele, a vida é uma festa. Ou melhor: muitas festas. Vive-a
intensamente,
sem preocupações nem
amarras. Um homem que nunca deixou se ser um puto.
Clara
de Souza (2º
livro)
Esposa
do Inspetor Frederico.
Preocupada
com a obsessão do marido pelo insolúvel caso de Sevilha, reúne
todas as forças para lutar por ele, tentando resgatá-lo do
crescente alheamento que o atormenta.
Jota
Inspector
criminal da DNIC Angolana. Coordena uma investigação em
Cabinda e tenta não saír chamuscado deste mediático caso.
Gianpiero
Bozzo
Banqueiro
e um dos chefes da Máfia americana.
Adotou
o Pedro Lage quando este, numa arriscada intervenção cirúrgica ao
cérebro, salvou o seu filho único de uma morte certa.
Trata
por filha a Annie Choat e jurou vingar a sua morte.
Chefe
Mike (2º livro)
O
chefe Mike tem uma boa vida na tranquila Provincetown, e tem-na
aproveitado ao máximo. A chegada de um forasteiro irá complicar
muito a pacatez do bom Xerife. E com ele surge o primeiro
assassínio na pacífica povoação de Cape Cod.
Teresa
Belo
Prostituta
de luxo com uma visão positiva, confiante e muito gratificante da
vida. Não fosse a enorme obsessão do Carlos Parreira por ela
e, sim, era caso para dizer:
la
vie en rose.
Sam
Rilley (2º
livro)
Viúva,
mãe da Katty.
Muda-se
de Fort Worth, Texas, para Cape Cod, Massachusetts , na esperança de
refazer a sua vida.
Recupera
uma velha mansão na praia. Uma festa na Igreja de Provincetown irá
alterar radicalmente a sua vida.
Annie
Choat
Mulher
de Pedro Lage.
Morreu
num atentado em Sevilha, quando uma bomba explodiu perto da Giralda.
Pedro
Lage
Médico
emigrado em Boston.
Regressa
a Lisboa à procura de vingar a morte de sua esposa, Annie Choat.
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