quinta-feira, 9 de julho de 2015

Inspector Miguel










UM QUASE CONTO  (DESTA VEZ, MUITO POUCO) EDIFICANTE:

O bom aluno




E o Lopes acompanhou o derrotado Miguel até à porta do seu gabinete com palavras de ânimo, não se esquecendo de dar umas quantas  pancadinhas encorajadoras nas curvadas costas do homem. Se tivesse um cafezinho até lhe oferecia de bom grado.

Cai sempre bem um gesto atencioso para com os derrotados desta vida.

-      Encara isto como uma nova oportunidade, Miguel.

-      Só podes estar a brincar comigo...

Claro que estou, parvo. Tás lixado, meu. Quem quer o teu coiro balofo de quase cinquenta anos?

O Lopes arma-se com aquele sorriso triste e compreensivo enquanto lhe passa o braço pelos curvados ombros do colega.

-      Ó Miguel, então?  Já não te lembras das palavras do nosso primeiro ministro? Lá fora existe todo um mundo de oportunidades que espera por ti! E depois sempre podes emigrar, meu caro.

E pronto! Mais um para a rua. 

Fecha a porta do gabinete num maravilhoso estado de exaltação, esfrega as mãos de contentamento, dá um enérgico soco para o ar e sente-se um campeão.

O cabrão que disse que o poder inebria mais que o sexo, está coberto de razão, caraças!

O dia tinha praticamente começado com o Lopes a reunir-se com os trabalhadores. Até lhes cheirou o medo quando comunicou a monstruosa tarefa que tinha pela frente.

Monstruosa foi uma palavra excelente.

O Lopes está mesmo orgulhoso da escolha. A malta já tinha apanhado com o monstruoso aumento de impostos que o Gaspar anunciou há anos, e agora os desgraçados sabem bem o peso desta linda palavrinha. Aliás, lembrar-se da cara seráfica do Gaspar a anunciar as monstruosas medidas,  foi um golpe de génio para o Lopes. Aquela cara patibular e a voz monocórdica do Gaspar foi mesmo uma bênção para o Lopes.   Apenas necessitou dar uns quantos retoques de estilo. Como pôr  aquele ar de contrariedade, talvez de  sofrimento, enquanto pronuncia a palavra monstruosa aos aterrorizados colegas. 

Ontem fartou-se  de treinar o discurso ao espelho.  O problema era que se desmanchava a rir quando chegava à parte do lamento muito...  

Lamento muito, o tanas! -   gargalhava o Lopes para o espelho  - Antes ser eu a despedir do que estar sentado no meio dos vencidos da vida a rezar para não ser escolhido.

À frente do maralhal,  o triste Lopes muito lamentou  a monstruosa tarefa que tem  pela frente, e o sofrido ar que arranjou foi uma maravilha de representação. 

A monstruosa tarefa que o Lopes tem pela frente é despedir vinte e quatro colegas. 

Um horror, meus amigos. Acreditem que antes preferia partir um braço.   

Disse todas estas baboseiras sem que a triste carranca à Gaspar se descosesse um milímetro.   Até conseguiu manter a patibular cara de sofrimento onde não faltaram tons de comiseração e solidariedade na voz.  Infelizmente, apesar de ter tentado com muita força, não conseguiu sangrar uma lágrima que fosse dos tristes olhos.

Findo o fúnebre monólogo, as consternadas caras dos colegas soaram como palmas e ovações para o Lopes.

Entre outras pérolas, esta saiu-lhe mesmo bem: Estou convosco, amigos. De alma e coração. Mas obrigam-me a esta ingrata tarefa.

Ponhamos as coisas no sério: o miserável estado a que chegou a empresa não é culpa do Lopes.

É bem certo que andam por aí uns lunáticos a dizerem umas patacoadas sobre a sobrevivência da empresa, mas essa esquerdalha vai borda fora não tarda nada. A realidade é que isto só lá vai com um valente  emagrecimento.  É como dis o patrão, o Sr. Silvestre: uma cura de austeridade.

E azar de quem for despedido; ao fim e ao cabo há danos colaterais em todas as guerras, não é verdade?  Quanto ao Lopes,  sempre soube estar do lado dos vencedores, ser o lobo que domina a carneirada. Há alguma dúvida entre matar ou ser morto?  Será que ele, Lopes,  tem pinta de Madre Teresa de Calcutá ou de outro parvo mártir?

Com sorte o Lopes até receberá um incentivo pela limpeza que está prestes a fazer.

E com estes pensamentos, o Lopes deu início ás temidas reuniões com vista aos despedimentos.

Hoje, logo hoje, o magricela do Lopes, esse  deslavado homenzinho  sempre encafuado em números e papeis, agigantou-se com a tarefa dada pelo Dr. Silvestre. E nem foi necessário nenhuma badalada para a abóbora se transformar num temido ditador ou ser admirado pela boazuda da Geni como se fosse um príncipe encantado.


Claro que o primeiro falhado a ser chamado tinha de ser o Garrido.

O filho da puta nunca foi à bola com o Lopes. Há coisa de meio anos atrás,  este esquerdalho até teve a desfaçatez de escrever um email nada abonatório sobre o Lopes. O cabrãozinho do Garrido teve o desplante de acusá-lo de desleixado, preguiçoso e mau colega. 

Esta e outras  tretas que o filho da puta teve o desplante de escrever, foram parar ao computador do Dr. Silvestre. Na altura o Dr. Silvestre pregou-lhe uma valente descompostura o que fez aumentar exponencialmente o grau de sabujice do Lopes.

Mas são os fins, e não os meios, que interessam. Não só as toneladas de  sabujice acalmaram a fera como eis que agora o pequeno Lopes é um tipo temido por esta corja de derrotados. Veja-se os gregos, caraças! De que lhes vale conservarem a honra se lhes escasseia o pão? Na opinião do Lopes, essa escória só tem de se tornar no bom aluno da Senhora Merkel. É mais ou menos como ele e o Sr. Silvestre, certo?

Mas voltemos ao filho da puta do Garrido. Vê-lo agora  reduzido à condição de rastejante, é um dos pontos altos do dia do Lopes.

A vingança serve-se fria, meu cabrão. Cá se fazem, cá se pagam.


Vejamos a reunião com a Geni.

A boazuda estava nervosíssima e os olhos vermelhos ainda estavam a lacrimejar. Mas que gaja mais boa, esta Geni!  A puta sabe bem o que vale e no meio da conversa soube inclinar-se toda para o Lopes mostrando-lhe as imensas delícias carnais. E entre sorrisinhos ficou a pairar promessas de muitas loucuras, épicas cambalhotas numa cama decente .

As fantásticas delícias vislumbradas sem vergonha, o promissor sorriso cheio de promessas magníficas e um discreto roçar de pernas nada casual, mudaram definitivamente  o sentido da conversa. O que se adivinhava penoso transformou-se numa alegre valsa de acasalamento.

A reunião coma Geni terminou com um tranquilizador  sorriso e uma imensa erecção. O Lopes telefonou à mulher dizendo que hoje não podia ir jantar. Jantar com o velho chasso, claro está. Sim, que o jantar com a boazona da Geni ficou logo marcado entre uma troca de olhares muito promissora, onde nem faltou o tal adorável roçar de pernas.  

Quanto à continuidade da Geni na empresa… bem, isso depende das pernas dela.  Ou se abrem, atitude inteligente da Geni, ou não.

E entra agora o Pereira a tremer que nem varas verdes.  Desconsolado, o parvo  pergunta-se porquê ele.

-      Sempre fui um trabalhador dedicado à empresa, Lopes.

Pois, choraminga para aí, cabrão. O teu problema foi mesmo esse. Seres dedicado à empresa e um sacana para mim. Agora, meu caro...

-      Meu caro amigo Pereira, acredite que tudo fiz junto do Dr. Silvestre para retirar o seu nome da lista... Logo o seu, meu amigo! Logo o seu…

Lista VIP, eh eh eh . E contigo na alheta, meu caro, chego aos vinte e três. Falta apenas a gorda  Leopoldina para atingir a meta que me propus.

Digamos que a balofa Leopoldina é uma vítima das fantásticas pernas da Geni. Um dano colateral, a bem dizer. Enquanto  uma é boazuda todos os dias, a Leopoldina é um trambolho. Até pode ser boa trabalhadora, neste ponto o Lopes não discorda. Mas que é um valente chaço…

Também a Leopoldina se escangalhou no gabinete do Lopes ao saber que ia ser despedida. A chorar que nem uma carpideira falou ao coração do Lopes. Disse-lhe que tinha quatro  filhas em idade escolar.

O Lopes não conseguiu evitar uma expressão de espanto.

Mas como é que este trambolho conseguiu parir logo quatro filhas, carago? E como é que algum homem tem a coragem de  enfiar a pila numa montanha de gelatina como esta balofa?

Enquanto o Lopes se perde nestes pensamentos, foi falando em piloto automático com a chorosa Leopoldina, dizendo que no final tudo acabará por correr bem.  O que é preciso é ter confiança e não desanimar.

-      Querida Leopoldina, ao fim e ao cabo, como diz o nosso primeiro ministro, lá fora há um mundo de oportunidades que espera por si.

Este é um sacrifício por uma causa nobre, minha querida. Vais tu para a rua enquanto ao Geni fica para me fazer uns trabalhinhos caseiros. Troca justa, não é verdade, óh trambolho?

Enquanto a Leopoldina, chorosa com o seu destino, medita tristemente  na nobreza do seu ato para tirar  empresa do buraco, nas medidas excepcionais em tempos de austeridade, o Lopes pensa numa enorme cama de água onde épicas batalhas acontecerão com a boazona da Geni.

Ai as pernas da Geni, meu Deus!

E o dia chega ao fim com o Lopes a entrar no gabinete do Dr. Silvestre.

-      Mas... despediste 24 pessoas, Lopes?

O pequeno Lopes quase rebenta de orgulho ao detetar o agradável espanto na voz do patrão.

-      Penso que assim as contas ficarão mais folgadas, senhor.

-      Sem dúvida, Lopes. Sem dúvida. Mas que agradável surpresa, meu caro! Superaste em quatro!  Mas que agradável surpresa, Lopes!

O nosso Lopes rejubilou de orgulho.

-      Sabe que pode contar comigo para o que quiser, Senhor. Sempre!

-      Sem dúvida, Lopes. Sem dúvida.

E a cabeça do Lopes enche-se de ideias ao ver do Dr. Silvestre rabiscar qualquer coisa.

Talvez um prémio chorudo por tão bom desempenho? 

O Lopes já se está a imaginar numa imensa cama de hotel com a Geni. Ao olhar para o papel que o Sr. Silvestre está a assinar, pensa que o prémio até dê para umas férias com a boazuda num resort de luxo. Sexo, sexo, sexo, sexo! Vai ser o paraíso, caraças!

-      Tome, Lopes. Saiba que estamos muito agradecidos.

Estava distraído o Lopes com as fantásticas pernas da Geni e não viu a folha de papel que o Dr. Silvestre lhe estendia.

O franco sorriso foi desaparecendo da cara do Lopes ao perceber que segura na mão a carta do seu despedimento. 

O Lopes está horrorizado. 

-      Mas... Dr. Silvestre...

-      Não agradeça, Lopes. Acrescentei mais uns euritos à proposta inicial, mas você bem os mereceu, homem!

-      Mas...

-      Então, homem? Que cara é essa? Encare isto como uma nova oportunidade, óh Lopes.

-      Só pode estar a brincar comigo, Dr. Silvestre... Depois de tudo o que fiz pela empresa...

-      Óh Lopes, então?  Já não se lembra das palavras do nosso primeiro ministro? Lá fora existe  todo um mundo de oportunidades que  espera por si!

E acompanha o atónito Lopes até à porta do seu gabinete  enquanto lhe dá umas palmadinhas nas costas.

-                    E depois sempre pode emigrar, meu caro. 












Caros Amigos,

Hoje adicionei um excerto sobre o Inspetor Miguel Lacerda 
ao site do livro ( www.correiodearc.wix.com/terra  ), 
ao blog (http://terraleve.blogspot.pt/
e ao facebook  (www.facebook.com/terraleve).  

Não é por acaso que termino a apresentação dos personagens com o Miguel Lacerda. Apesar de aparecer marginalmente na história (aqui está um movimento oposto ao do John Travis e ao da Teresa Belo), este Inspetor é dos meus personagens preferidos. O Miguel, por duas ou três vezes rotulado de incompetente pelo Pedro Lage, está farto do que faz e conta os dias que lhe faltam para a reforma, enquanto tenta liderar uma equipa algo disfuncional. De humor que varia entre o mau e o péssimo, encontramos  o  Inspetor Lacerda  assoberbado na investigação do assassinato de um banqueiro quando um antigo colega lhe telefona a pedir um favor.  Cada vez mais incrédulo,  ouve o que o colega lhe diz e no final solta uma praga. Ao fim e ao cabo nunca recusou nada ao seu mentor e não é agora que se vai a pôr com  tretas. Por muito que lhe custe, e custa-lhe como o diabo, acaba por responder afirmativamente ao Frederico.






O Miguel Lacerda tem muito pouca paciência para enigmas, mistérios e outras particularidades que o obriguem a pensar. Sente-se confortável com o seu mundo a branco e preto, os bons e os maus, a verdade e  a mentira.  A úlcera que carrega todos os dias no seu dilatado estômago uiva quando tais  dicotomias se multiplicam em nuances que dificilmente compreende. A imagem que escolhi traduz esta simplicidade tantas vezes confundida com falta de inteligência. Apesar do seu mau humor,  o Inspetor é uma alma sensível onde a rudeza do rosto encobre  bem um caráter afável, reto e disponível.  A fotografia que escolhi tenta retratar o que acabo de escrever. O rosto é duro e determinado mas, desculpem-me este à vontade, não tem a centelha de inteligência que se vê no do Inspetor Frederico ou do Jota.


Para mim, a música do Miguel Lacerda deve espelhar um desapontamento e um cansaço de alguém que perdeu a capacidade de se maravilhar. Ao mesmo tempo deve ser forte de determinada como este sólido Inspetor. Springsteen é dos cantautores que melhor trabalha este sentimento de desencantamento. (além do mais, os subordinados tratam-no por chefe) . Breakaway é, a meu ver, a música perfeita para o Lacerda. Podem ver e ouvi-la no final deste texto.

Podem consultar a página do Inspetor Miguel Lacerda  em:
http://correiodearc.wix.com/terra#!__miguel

Escrevo algo que não me canso de repetir: utilizem umas boas colunas ou uns auscultadores. Há imensa música no site e, francamente, o som dos PCs, tablets, etc, é  mau (horrível, mesmo).

Caso gostem deste site e do que estão a ler, divulguem pelos vossos amigos. É a única forma de um desconhecido autor chegar a um público mais vasto. Os endereços são: www.facebook.com/terraleve   ou http://terraleve.blogspot.pt/.
E pronto, amigos.  

Na próxima quinta feira  estarei aqui para vos falar sobre as músicas que inspiraram a minha escrita.














Capítulo 31
UM ANO PARA O FIM
MIGUEL LACERDA
LISBOA
Terça feira, 22/Dez/2015, 15:30


A sala era seguramente a maior divisão onde alguma vez esteve. Por um momento pensou na ex mulher, a Rosário, e como ela gostaria de estar nesta magnifica casa. Quando passeavam para os lados da Boca do Inferno, a sua mulher detinha-se invariavelmente à frente deste casarão cor de rosa com vista direta para o mar. Sonhava um dia ser rica sem compreender que casarões iguais a este ou vem de fortunas muito velhas ou de trafulhices muito novas. Os novos ricos contentam-se em ficar mais à frente, para os lados da Guia. Com sorte, talvez o dentista lhe compre um andar numa das torres que existem perto do Pestana.


A mulher que está à sua frente sentada num cadeirão que custou mais do que ganha num ano inteiro, acabou de sentir o peso do mundo nas suas costas. Da estupefação por saber da morte do marido, passou à dor pela perda de um ente querido. Ainda tentou manter a pose durante alguns minutos mas o choque foi demasiado violento. Por isso tirou um lencinho e enxugou os cantos dos olhos sentindo-se envergonhada por esta fraqueza. Ditames da classe a que pertence, pensa com algum azedume. Não fica bem a uma Sotto Mayor expressar a dor como um vulgar ser humano e muito menos perante um oficial de polícia. Por isso tenta reter as lágrimas e a angústia o melhor que consegue.


Aos poucos a dor foi cavando uma brecha nesse dique de castas e etiquetas e uma grossa lágrima rolou num rosto que perdeu há muito a pouca graça que teve. Outras se seguiram e entre pedidos de desculpas e lenços protetores, o edifício alicerçado por regras de etiqueta asfixiantes começou lentamente a ruir.

Não interessa se rico ou pobre, dar noticias como esta é a pior tarefa que o Miguel tem de desempenhar. Sabe que no final do dia irá arrastar-se até ao bar mais próximo e lavar a sua alma em alguns copos de whiskies.


Pelo canto do olho vê a Cátia, a caçula da equipa, impaciente por falar com ele. Com um gesto de contrariedade refreia o ímpeto juvenil da agente. Há que respeitar a dor de uma perda, até porque estes momentos podem ser muito reveladores. Mais tarde irá falar com ela.


Ж


- Esta é a listagem dos telefonemas que o Tomás efetuou – a Cátia pode ser a mais nova do grupo mas é de longe a mais desembaraçada nas questões informáticas e noutros segredos do género.


Pega nas folhas de papel e fica algo desmotivado pela quantidade de números que o agridem.


- Veja o último telefonema que recebeu.


De repente sente o corpo gelar. Não pelo último telefonema que recebeu, mas pelo último telefonema que realizou. A acreditar no que o médico legista lhe disse, o Tomás fez este telefonema cerca de meia hora antes de ser assassinado. Fica por momentos a olhar fixamente para o número. Depois solta uma sonora praga.


Mais uma vez o Frederico teve a capacidade de o surpreender.


Frenético, marca o número do amigo.


(...)


Ficou agastado pela interrupção. Todos sabem que não gosta de ser interrompido quando está num processo de interrogatório, e diabos o mordessem se aquela reunião não é já um inquérito. Por isso nem tentou dissimular a contrariedade que sentiu quando o Rui entrou pela sala dentro com um molho de folhas na mão. Eram fotografias de um homem e de uma mulher em diversas posições explícitas num quarto de hotel.


Ao olhar para aquela mulher que recebia em êxtase a masculinidade do Tomás, recordou uma outra, tão bela como esta, que o levou tantas e tantas vezes ao êxtase. E recordando todas essas vezes, acha-as tão poucas. Tão dolorosamente poucas. A família. O apelo da família. Foi pela Rosário que decidiu terminar a relação com a Helena. E desde essa altura não passa uma única noite que não pense nela nem como a sua vida poderia ter-se enchido de sol, cor, risos e muito amor. Olha para fora da janela e para as nuvens escuras que vestem a cidade de um lacónico manto cinzento. Tão cinzento como está a puta da sua vida. A Lena faz-lhe tanta falta, santo Deus! Sem ela tornou-se amargo e impaciente.


Lembra-se do tempo em que fazia amor com a Rosário. Era a Lena, a sua Lena, que via a abraçá-lo, a beijá-lo e a gemer de prazer. É a velha questão do ovo e da galinha. Não sabe se a Lena entrou na sua vida porque o seu casamento estava uma desgraça ou a relação esfrangalhou-se porque a Lena entrou um dia na sua vida… No seu caso, pensa, o ovo e a galinha apareceram ao mesmo tempo…



Quase com relutância desvia o olhar dessa outra mulher que se parece tanto com a sua eterna paixão e mostra as fotografias aos presentes.   





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