quinta-feira, 16 de julho de 2015

Houndmouth - Sedona, Boston, Public garden



UM QUASE CONTO POUCO EDIFICANTE:

O escorpião e a tartaruga

A bicharada já não tem dúvidas; a ilha está a afundar-se. O lento mas persistente avanço das águas, tem causado o pânico na malta e num coro de aflitos, cada um tenta encontrar a miraculosa salvação.

Nesta aflição, e tal como o patinho feio um dia se transformou em cisne, a pachorrenta tartaruga virou a estrela da companhia ao transportar esforçadamente alguns trémulos animais para a ilha mais próxima.

Mas a pobre tartaruga com o seu vagaroso andar nunca conseguirá salvar a tempo todo o pessoal. Por isso quando o apavorado gato subiu para uma tábua que flutuava por ali, o cão rosnou apenas por uma questão de hábito, só para manter os seus pergaminhos. E num equilíbrio instável, gato, rato, formigas, um coelho e algumas pulgas acomodaram-se o melhor que conseguiram na frágil tábua, enquanto o cão empurra com o focinho o pedaço de madeira na direção da outra ilha.

Mas as coisas nem sempre se passaram desta forma tão harmoniosa. Num tronco repleto de animais mesmo prontinho para zarpar, aconteceu a debandada geral quando o escorpião se aproximou, querendo também ele uma boleia.

Esta já era a quinta tentativa do escorpião subir para um tronco. Subir, ele até subia. O problema era que a bicharada fugia logo num histérico alvoroço, deixando o pobre escorpião abandonado no solitário tronco.

E o tempo foi passando com o escorpião a correr de tronco em tronco causando o pânico na malta, enquanto a vagarosa tartaruga ia assegurando o serviço de ferry entre as duas ilhas.

Por fim a ilha já não era mais que metro e meio de terra. Foi então que se cometeram verdadeiros atos de loucura quando as últimas galinhas, porcos, lagartos e avestruzes se fizeram à vida entre gritos, choros e muitas angustiadas rezas.

O pedaço de terra ficou finalmente sem ninguém.

Ninguém?

E o escorpião?

Pois é. O pequeno escorpião chorava baba e ranho numa aflição crescente enquanto via o impiedoso avanço das águas.

Muito gritou por socorro o sofrido animal!

Calhou a tartaruga fazer uma última travessia para ver se ainda restava algum animal para salvar.

Foi quando deu com o choroso escorpião.

  • Salva-me, tartaruga. Peço-te. Imploro-te. Por favor, por favor salva-me desta morte certa.

Apesar do bondoso coração da nossa heroína se condoer com a aflição do negro animal, afastou-se prudentemente do negro escorpião e meteu-se lentamente na água. O aflito escorpião, agora já sem terra seca e com as águas a cobrirem as patitas, uivou, gritou, implorou e jurou que se salvasse desta seria um outro escorpião. Um animal melhor, um irmão para a tartaruga.

  • Um santo – jurava entre lágrimas o escorpião – Passarei a ser uma alma benemérita. Um amigo dos pobres, dos menos pobres e dos muito ricos também.

Cativado por tão sentido ato de contrição, a nossa heroína pensou que esta provação transformou o escorpião num animal melhor. Assim, em vez de regressar sozinha à outra ilha, um pouco a medo lá se aproximou do choroso escorpião.

E o negro animal tratou logo de subir para a carapaça da nossa heroína entre frases de agradecimento a Deus, à tartaruga, a tudo e a todos também.

E uma vez mais a tartaruga rumou para a outra ilha, agora com o agradecido escorpião na carapaça.

Talvez devido à humidade da carapaça da tartaruga, talvez pelas ondas que se faziam sentir, o certo é que o escorpião escorregou, gritou que se fartou e foi borda fora numa imensa aflição.

A vagarosa tartaruga apenas viu a última patita do escorpião girar como um catavento histérico e depois... mais nada. Logo a nossa heroína mergulhou no oceano e numa velocidade surpreendente nadou até ao moribundo escorpião, resgatando-o pela segunda vez de uma morte certa.

Extenuada, a tartaruga mal chega a terra deita-se esgotada sobre a terra seca. De tão cansada que está, esquece-se de recolher as patas.

A visão daquela carne pulsante e desprotegida foi demasiado para o escorpião. Milhões de anos levaram a melhor sobre as boas intenções do negro animal e mal o escorpião desce para terra firme, a sua natureza falou mais alto.

O escorpião aproxima-se de pata da tartaruga de ferrão em riste e o veneno ansioso por se libertar na tenra carne da tartaruga. Mas espera para lhe dar a fatal ferroada.

Um pedra esborracha o escorpião enquanto um macaco grita:

  • Matei-te, malvado, finalmente matei-te!

Logo um horrorizado coro de repúdio fez-se ouvir contra o macaco.

Os tempos são outros, grita exaltada a bicharada.

Ilha nova, um novo recomeço faz-se ouvir entre porcos, vacas, carneiros e os demais animais.

Nesta ilha, cães e gatos são amigos e a lei é soberana, passa a ser o slogan mais vezes repetido.

Rapidamente se forma um tribunal que por unanimidade e aclamação condena o macaco à morte.


Olho por olho, dente por dente, gritam os eufóricos animais enquanto a tartaruga lança a primeira pedra na direção do macaco. 















































LOCAIS ONDE SE PASSA A ACÇÃO

BOSTON
JARDIM PÚBLICO










Pedro Lage
Médico emigrado em Boston. 
Regressa a Lisboa à procura de vingar a morte de sua esposa, Annie Choat.












Annie Choat
Mulher de Pedro Lage. 
Morreu num atentado em Sevilha, quando uma bomba explodiu perto da Giralda.














Inspetor Frederico de Souza
Recentemente aposentado da PJ.
 Apesar de ter colaborado marginalmente no caso do atentado em Sevilha, a impunidade do ato leva-o a encetar uma obsessiva cruzada em busca da verdade.













Teresa Belo
Prostituta de luxo com uma visão positiva, confiante e muito gratificante da vida. Não fosse a enorme  obsessão do Carlos Parreira por ela e, sim, era caso para dizer:
 la vie en rose.















Anselmo Munguambe
Ex inspector criminal da DNIC Angolana. 
Vê-se envolvido numa investigação em  Cabinda. Tenta sem grande êxito esquecer o seu amante de Luanda, o Puto Zé.














Edward Choat (2º livro)
Pai da Annie. 
Devastado pela morte da filha, tenta preservar as memórias num caderninho que leva consigo para todo o lado.  Subitamente, numa visita ao Pedro Lage, o seu quotidiano sofre uma dramática alteração.


















Chefe Mike (2º livro)
O chefe Mike tem uma boa vida na tranquila  Provincetown, e tem-na aproveitado ao máximo. A chegada de um forasteiro irá complicar muito a pacatez do bom Xerife.  E com ele surge o primeiro assassínio na pacífica povoação de  Cape Cod.





















Sam Rilley (2º livro)
Viúva, mãe da Katty.
Muda-se de Fort Worth, Texas, para Cape Cod, Massachusetts , na esperança de refazer a sua vida.
Recupera uma velha mansão na praia. Uma festa na Igreja de Provincetown irá alterar radicalmente a sua vida.














Clara de Souza (2º livro)
Esposa do Inspetor Frederico. 
Preocupada com a obsessão do marido pelo insolúvel caso de Sevilha, reúne todas as forças para lutar por ele, tentando resgatá-lo  do crescente alheamento que o atormenta. 


















John Travis
Ex. mercenário  Sul Africano. 
Participou com o Carlos Parreira no massacre de Nyarubuye. Banido de uma força privada de segurança, procura junto do amigo um emprego na Elad, a empresa angolana de lapidação de diamantes.














Kattie Rilley (2º livro)

Filha da Sam. 
Com o inseparável Bob, o amigável pastor belga, calcorreia alegremente as praias de Cape Cod. Até ao dia em que dá com um homem solitário no topo da sua duna preferida.













Gianpiero Bozzo
Banqueiro e um dos chefes da Máfia americana. 
Adotou o Pedro Lage quando este, numa arriscada intervenção cirúrgica ao cérebro,  salvou o seu filho único de uma morte certa.
 Trata por filha a Annie Choat e jurou vingar a sua morte.  
















Miguel Lacerda
Inspetor da PJ. Desencantado com a vida, com a ex mulher e com a reforma que teima em fugir. 
A estranha ligação de um banqueiro assassinado a uma prostituta desaparecida ameaçam estragar o Natal cuidadosamente preparado com a sua filha.

















Kiese
Jovem agente da policia de Cabinda. 
Durante demasiado tempo investigou sozinho o caso das jovens desaparecidas. Com a chegada dos reforços vindos de Luanda, o seu equilíbrio ameaça desintegrar-se.











Puto Zé
Para ele, a vida é uma festa. 
Ou melhor: muitas festas. Vive-a intensamente, sem preocupações nem amarras. Um homem que nunca deixou se ser um puto.
















Padre Thomas (2º livro)
Cedo o bom padre Thomas desenvolve uma tranquila amizade com o Pedro Lage. O convite que fez ao Pedro para abrilhantar uma festa na sua paróquia irá desencadear um conjunto de ações que nenhum poderia suspeitar.
















Inspetor Frederico de Souza
 Recentemente aposentado da PJ.
Apesar de ter colaborado marginalmente no caso do atentado em Sevilha, a impunidade do ato leva-o a encetar uma obsessiva cruzada em busca da verdade.























Annie Choat
Mulher de Pedro Lage.
 Morreu num atentado em Sevilha, quando uma bomba explodiu perto da Giralda.
























Pedro Lage


Médico emigrado em Boston.
Regressa a Lisboa à procura de vingar a morte de sua esposa, Annie Choat.




























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