quinta-feira, 7 de maio de 2015

Carlos Parreira








Caros Amigos,


Antes de vos falar sobre o vilão do meu livro, deixem-me falar de outros personagens, estes de carne e osso.

A greve dos pilotos da TAP está no sétimo dia, com pouquíssima adesão, imensa publicidade negativa e   a vida de muitos passageiros ficou complicada. 

Infelizmente nos últimos meses tem-se quebrado o vínculo de confiança entre empresa e uma data de gente e agentes. É mais ou menos como no casamento: quando o tal vínculo de confiança é quebrado, tudo fica muito mais difícil. Normalmente entra-se num beco sem saída.  

Agora há gente que olha para o bilhete que comprou e  pensa  se haverá TAP até à data do seu voo. Havendo, se haverá nova greve ( de Comandantes, de técnicos de cabine, de manutenção ou sei lá eu quem mais poderá fazer greve )

Nesta altura muitos arrependem-se ter comprado o bilhete na TAP e desconfio que as vendas da empresa estejam  em grande  depressão  e a precisar urgentemente de psicanálise.






Nesta triste história, os Comandantes aparecem como a fonte de todos os males. E por causa da inqualificável greve que desastradamente protagonizaram, a TAP irá passar as mais sérias sevícias, reestruturações, despedimentos, privatização e, sabe-se lá, talvez a falência.

Pelo menos é o que diz bem alto uma data de gente nas televisões, rádios e jornais.

Oh! Que formosa aparência tem a falsidade! 
(bem, quem escreveu isto foi  Shaskespear no século 17. 
Pelos vistos, mantém-se actual).


Aproveitem esta greve, Senhores.

Descarreguem na TAP a vossa fúria  justiceira.

já agora, não se esqueçam de lavar   as vossas culpas.

Porque ao fim e ao cabo o Verão de 14 nem chegou a acontecer.  

Em bom rigor, meus caros, todo o ano de 2014 foi uma fantasia que não  mereceu grande repúdio da vossa parte. 

Verdade?

Mas a maldita greve dos comandantes, não.

Gritem, acusem  e entoem bem alto o vosso sentir perante esta estúpida  greve.  

É que ela vem mesmo a calhar, amigos. 

É o tal bode que expia muitos pecados.  

E certamente justificará as cenas dos próximos capítulos. 


Cada um dos flocos de neve de uma avalanche declara-se não culpado.
(Stanislaw Lec)








Hoje adicionei um excerto sobre o Carlos Parreira
ao site do livro ( www.correiodearc.wix.com/terra  ),

 ao blog (http://terraleve.blogspot.pt/ )

e ao facebook  (www.facebook.com/terraleve).  

Contrariamente  ao que acontece no meu livro anterior (Uma questão de bonecas) o assassino é conhecido desde o início. Em boa verdade, logo no primeiro capítulo.

O Carlos Parreira foi o personagem que mais trabalho me deu a caracterizar. Acreditem que não é nada fácil tentar entrar na mente de um monstro, perceber as suas motivações e imaginar as macabras depravações que alimentam o seu existir. O Carlos Parreira obrigou-me a um longo (e penoso) processo de documentação. 

A escrita teria sido muito mais crua (e acreditem que já é muito penosa) não fosse a sensibilidade da minha filha colocar um travão na minha mente depravada (e quem disse que não há censura??). Mas talvez tenha sido melhor; de outra forma os meus amigos ainda começavam a olhar-me de lado. E mesmo assim...





No final da escrita, acredito ter conseguido construir um personagem repulsivo , mau e, o que é mais preocupante, retratar uma pessoa plausível. Sei que o Carlos Parreira irá chocar a sensibilidade de muitos leitores mas… trata-se de um monstro, percebem? O tipo é um sádico, um  assassino, um psicopata. 

Não há forma de suavizar a descrição da maldade humana (sem resvalar para o ridículo).  Daí a crueza deliberadamente empregue “na fala” do Carlos Parreira, apesar de saber que tal vos irá chocar. Aliás, a Editora irá colocar um aviso na capa do livro, alertando para a passagem de algumas partes de leitura  francamente violenta.
(decididamente irei ser visto com outros olhos depois de terem lido o livro...)

Confesso que tive alguma dificuldade em escolher um excerto da fala do Carlos Parreira para colocar neste "post". Optei por uma das passagens mais softs. Deixo as emoções fortes, muito fortes mesmo, para a leitura da obra. Quem for sensível, já sabe; quando chegar um capítulo do Carlos Parreira, não leiam. Não quero que fiquem mal dispostos com a leitura da obra...  Passem ao capítulo seguinte sem ler. O homem é mesmo mau e as descrições são muito realistas.


Hoje estou muito solidário, amigo e preocupado convosco. Por isso permitam-me um conselho a todos aqueles que gostam de "Caruso".  Ouçam-na agora. Deliciem-se com a melodia e com a fantástica interpretação de Luciano Pavarotti, por exemplo. Aproveitem enquanto é tempo. Depois de lerem o livro, estou certo que a música soará diferente e, pior, irão recordar as mais negras passagens do livro. 

Para quem não conhece esta música tão bonita, é só clicar na imagem:






Até na escolha da fotografia o homem  se revelou difícil. O rosto que coloquei na página dele é o de um assassino (eu repiso: um assassino de verdade). Mergulhei no fantástico mundo do Google e fui parar à lista dos assassinos mais procurados dos EUA. Foi lá que encontrei o rosto do “meu” Carlos Parreira. O pormenor das fartas sobrancelhas que se unem junto à cana do nariz é uma “private joke” só para alguns ( infelizmente não consegui encontrar um rosto assim). Tal como a cena do tipo a estrangular lentamente um adorável gatinho com manchas brancas e negras (outra "private joke" para um certo Tobias Belindo Rebola  que eu cá sei).

Quanto à musica foi tarefa bem mais fácil.  Basicamente foi ela que veio ter comigo. Estava eu calmamente a ouvir o Hotel Babilónia quando o João Gobern diz para o  Pedro Rolo Duarte: e esta, o que achas deste tipo? Eu ouvi e… encontrei a sonoridade certa.  Trata-se de Nick Cave em “Push the sky away”.






Podem consultar a página do Carlos Parreira em:


Escrevo algo que não me canso de sublinhar: utilizem umas boas colunas ou uns auscultadores. Há imensa música no site e, francamente, o som dos PCs, tablets, etc, é francamente mau (horrível, mesmo).

Caso gostem deste site e do que estão a ler, 

divulguem pelos vossos amigos. É a única forma 

de um desconhecido autor chegar a um público 

mais vasto. Os endereços são: 



ou



E pronto, amigos.  Em breve estarei aqui para vos falar sobre o Anselmo Munguambe.




Vejam aqui a música que me inspirou na escrita do personagem Carlos Parreira.


(Nick Cave, Push the sky away ) 

















Capítulo 01
UM ANO PARA O FIM
CARLOS PARREIRA
LUANDA
Terça-feira, 08 de dezembro de 2015, 22h30


Depois de intermináveis sessenta e três minutos encurralado num pequeno avião a necessitar de urgente manutenção, Carlos aterrou em Luanda, em trânsito para Lisboa. Estava sentado há demasiado tempo num banco de plástico que ameaçava a todo o momento partir-se em mil bocados. Obrigara-se a não olhar uma vez mais para o relógio. Detestava multidões, e aquele maldito aeroporto estava a abarrotar de gente. Tentava ocultar a raiva que lhe ia crescendo no peito; forçou a respiração a voltar ao normal e ordenou à mente que vagueasse para pensamentos positivos. 

Ter de negociar o sistema de videovigilância da Elad, a empresa de lapidação de diamantes, não o alegrava, mas tinha de aguentar. Era por causa dessa reunião que ia a Lisboa. Refez o raciocínio: oficialmente ia a Lisboa por causa dessa reunião. Infelizmente teria de gramar com a cabra da Paula Reis.

Devia ter emitido um ruído de desagrado, pois tinha captado a atenção da família sentada à sua frente. Gentalha, quase rosna a olhar para eles. Regressa aos seus pensamentos, recordando uma vez mais a Paula Reis. Um dia ainda vai acabar com a mania de superioridade dessa cabra frígida; a gaja pensa que sabe mais que toda a gente. É cabra e ainda por cima lésbica. Haverá combinação pior? 

Suspirou ruidosamente cheio de pena de si. Deitou um olhar zangado à família sentada à sua frente. Desta vez eles tinham tido o cuidado de o ignorar. Ainda bem, seus parvalhões, ainda bem. Uma vez despachada a reunião e a Paulinha mais seus brinquedos de vigilância, teria todo o tempo do mundo para se dedicar à sua obra-prima.

Teresa.

A mais bela mulher que conhece. 

Finalmente sorri. 

A família que estava sentada à sua frente continuava a ignorá-lo. Continuem assim, seus merdas. Nunca teve paciência para aturar esta gentalha. Lixo, pensa enojado.

Uma onda de prazer invade-lhe o corpo e permite-lhe alhear-se daquela horrível sala de espera, porca, malcheirosa e com o sistema de ventilação a funcionar mal. Raivoso, pensa que nunca o viu funcionar decentemente.

Força de novo o pensamento a centrar-se na bela Teresa.

Teresa. A doce Teresa. A sua mais bela criação.  

Como um artista, revê a sua obra. 

No início era Teresa, a soberba, consciente da sua beleza e do poder que exerce sobre os homens. Já a viu usá-lo em seu benefício, quer com homens quer com mulheres. Desde que paguem no fim… 

Também o usou com ele. Corrige uma vez mais o seu pensamento. Tentou usá-lo com ele. Tentou ser a caçadora quando afinal não passava de uma frágil presa. 

Sorri nostálgico. Lembra-se de ter tido o cuidado de entrar no jogo dela, de fingir que estava enredado nas malhas da sedução. O gozo que lhe deu quebrar aquela altiva segurança tão própria das mulheres bonitas.  

Depois era Teresa, a rebelde. Ainda tinha a veleidade de o questionar, se bem que a insegurança lhe minasse o tom de voz. Isso foi pouco depois de ter começado a andar com ela.

A sua obra ainda estava em bruto.

Com um suspiro de prazer recordou o trabalho que pacientemente foi fazendo para destruir essa segurança. A rebeldia foi dando lugar à surpresa, e passado uns tempos, para seu prazer, começou a cheirar-lhe o medo.

Agora sente que o fim da obra está perto. Provavelmente ainda não será nesta visita que a conseguirá dobrar. Talvez na próxima. 

A submissão a si. O controlo total. 


Ser o dono da bela Teresa, não só do seu corpo escultural, mas, mais importante, da sua mente.








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