UM QUASE CONTO POUCO
EDIFICANTE:
O lance do presidente
da Junta (parte 6 de 7)
(Continuação da semana
anterior)
A manhã do Presidente da Junta piorou quando
percebeu que a austera mulher que carregava o trombudo Vítor da Ti Zeza e uma
negra mala de tenebroso aspeto era, para mal dos pecados da malta da vereação,
uma Inspetora de algo que o colocou num pânico absoluto, descontrolando-lhe os
tiques e tremeliques. Terá sido Atividades Económicas que o pobre Presidente
ouviu?
Aparentemente a encomenda do Audi 6 e de outros
carros de luxo para os vereadores,
despertou a curiosidade do monstro fiscal que tudo controla, tudo quer
saber. Agora, olhando para o encavacado Vitor, o Presidente da Junta começa a
suar. A suar e a tremelicar.
Quem normalmente mata o bicho com coiratos não
desata a comer lagosta sem um bom motivo. Pelo menos para a omnipresente
Autoridade Económica. Os bites, bytes e outras magias informáticas logo fizeram
franzir o sobrolho digital do big brother fiscal, olhando desconfiado para o
stand que encomenda agora carros de luxo quando antes se desunhava a vender
um lixo que fosse. E mesmo esse, em segunda ou terceira mão.
Logo a máquina fiscal cuspiu a ordem
digital que agora esta seca mulher exibe
a um cada vez mais nervoso e tiquento Presidente da Junta.
Do negro malão a ríspida mulher retira uma fina
caixa de horrores. Por qualquer milagre divino e falta de cobertura wireless,
aquela coisa ficou agradavelmente silenciosa. Mas a bonança foi de curta
duração; recorrendo a meios já caídos em desuso na cidade, mas curiosamente de
maior eficácia em Alforges de Cima, a seca criatura retira uma resma de
papel com a prova provada que ali andava
marosca.
A incómoda questão colocada pela agente da
Autoridade Económica prende-se com a proveniência do dinheiro para que o stand
do Vitor da Ti Zéza tenha desatado a comprar carros de luxo como se não
houvesse amanhã.
Por um segundo de puro pânico o Presidente da
Junta temeu que o Vitor tivesse falado a esta cabra no fantástico investimento
que Messiê Pierre de La Croix tem planeado. Soubesse ela disto e o pequeno
consolo que espera retirar com o negócio, coisa mínima em negócios de milhões
fadados a darem triliões, seria logo catalogado como coisa nojenta,
transfigurado em acto vil, destinado a ser presa fácil dos abutres das televisões,
rádios e jornais. Veja-se o Sócrates, meus caros, homem tão empreendedor e
benfazejo onde agora está. Mas é claro que foi consolado por tamanho
empreendedorismo que tanto deu à Lusa Nação.
Sem dúvida que tamanhos incentivos têm de ter o
seu consolo. Sejam autoestradas a triplicar, essenciais submarinos para a
defesa da lusa soberania, aviões velhos avaliados como novos ou vendas de grandes empresas a pequenos
Davids, escaqueirando-as de seguida. O doce consolo não tem cor nem partido.
Conhece apenas o dono do dinheiro e o nome do facilitador que faz fluir o doce
metal de um lado para outro.
O dinheiro parado, cria mofo. Há pois que
fazê-lo rodopiar como um alegre vira minhoto. E qual gordo hipopótamo a
saltitar de nenúfar em nenúfar, deve deslizar de uma mão para outra mão. E a
cada saltito, a cada pouso no facilitador nenúfar, o benfazejo consolo lá vai
escorregando para o bolso do empreendedor, transformando-se mais tarde no
maravilhoso Audi A6 e recuperar a falida empresa familiar.
E assim a vida seguiria mais luzidia, alegre e
risonha, não fora a cabra da Autoridade Económica mais o seu tenebroso negro malão complicar a vida desta
simpática vilória e, principalmente, a vida do cada vez mais tiquento Presidente
da Junta.
- Agradeço que pare de piscar o olho para mim.
O azedume como a advertência foi proferida
apenas aumentou os tiques do pobre homem, que jurou pelas alminhas de toda a
família, a ausente Guidinha incluída, não ter feito tal coisa. E quanto mais o
Presidente da Junta negava, quanto mais lhe piscava o olho, mais a austera
inspetora se encrespava e mais acutilante se mostrava nas perguntas que
despejava em catadupa.
Estavam estes dois numa renhida batalha campal
de surdos mas com vozes bastante alteradas, quando Messiê Pierre entrou no
gabinete presidencial. Apercebendo-se da delicada situação, logo colocou o
sorriso mais radioso e numa nuvem de charme com tonalidades Chanel, Hermés e
Vuitton, convidou-os para um singelo almoço que o meio do dia já há muito tinha
sido dobrado.
Pena que a nouvelle cuisine não tivesse chegado
ainda a Alforges de Cima. Nem a nova
cozinha nem qualquer outra um pouco mais elaborada. Mas tal falta não foi
obstáculo para o mundano de La Croix transformar os rojões da tasca do Norberto
da Ti Leopoldina na iguaria regional mais aplaudida do distrito e o carrascão
comprado na Miserela, em quase Cabernet Sauvignon nacional.
Entre uma garfada, um tintol e toneladas de
charme, Messiê Pierre deixou cair na conversa, agora convenientemente
amolecida, a sua benfazeja obra de caridade, o acolhimento e tratamento das pobres crianças com o Síndrome de Down.
Foi uma oportuna chamada telefónica, segundo as
más-línguas feita pelo seu motorista, que permitiu servir o seu santo projeto
do Pierre de La Croix numa salva bendita, em pleno almoço de negócios.
E todo e qualquer assunto que estes convivas
estivessem a falar, esfumou-se perante
tamanha obra caritativa.
Com a voz embargada, Pierre de La Croix
confessou a alegria da notícia recebida: a sua caritativa obra acabara de
acolher no seu seio mais oito pobres crianças enfermas dessa terrível
fatalidade. Iluminado por qualquer santa luz, Messiê Pierre de La Croix
partilhou de imediato os enormes investimentos que tem feito no estudo e
pesquisa de uma cura ou pelo menos, de algo que atenue tamanho calvário às
pobres criancinhas e respetivas famílias.
Subitamente a fria agente da Autoridade
Económica soçobrou num mar de lágrimas e, soluçando, amanteigou o empedernido
coração confessando também ela ter um filho que padece deste impiedoso mal.
Magnânimo, compreensivo e solidário, logo Messiê Pierre de La Croix
disponibilizou a sua benemérita obra, pagando inclusive quer a viagem, quer a
estadia e todos os tratamentos que a pobre criança necessite.
Findo o almoço, após uma breve indecisão no
momento de pagar o lauto almoço regional, Messiê Pierre de La Croix fez questão
de ser ele próprio a levar a agradecida agente da Autoridade Económica à
estação de comboios mais próxima. Aqueles dois parecem conhecer-se desde
sempre, tal é a perfeita sintonia que sorrisos, vontades e atitudes foram
valsando na tasca do Norberto da Ti Leopoldina. E fruto desta perfeita harmonia, bastou à agente da
Autoridade Económica a garantia dada pelo próprio Messiê Pierre de La
Croix, que toda a documentação
necessária relativa à atividade do stand do Vítor da Ti Zéza, seria prontamente enviada amanhã por correio
registado.
Tivessem estes dois olhado para trás e teriam
visto a discreta discussão entre o Norberto da Ti Leopoldina e o Presidente da
Junta. Um porque quer o dinheiro do repasto e o outro, já não o tendo, promete
tudo pagar logo mais à noite.
Sim, porque a decisão de Messiê Pierre só pode
ser uma, por muito que os laços de sangue façam inclinar o tabuleiro para os
manhosos de Alforges de Baixo.
LOCAIS ONDE SE PASSA A ACÇÃO
Provincetown - Cape Cod
(2º livro)
(2º livro)
Pedro
Lage
Médico
emigrado em Boston.
Regressa
a Lisboa à procura de vingar a morte de sua esposa, Annie Choat.
Annie
Choat
Mulher
de Pedro Lage.
Morreu
num atentado em Sevilha, quando uma bomba explodiu perto da Giralda.
Teresa
Belo
Prostituta
de luxo com uma visão positiva, confiante e muito gratificante da
vida. Não fosse a enorme obsessão do Carlos Parreira por ela
e, sim, era caso para dizer:
la
vie en rose.
Sam
Rilley (2º
livro)
Viúva,
mãe da Katty.
Muda-se
de Fort Worth, Texas, para Cape Cod, Massachusetts , na esperança de
refazer a sua vida.
Recupera
uma velha mansão na praia. Uma festa na Igreja de Provincetown irá
alterar radicalmente a sua vida.
Katty
Rilley (2º livro)
Filha
da Sam.
Com
o inseparável Bob, o amigável pastor belga, calcorreia alegremente
as praias de Cape Cod. Até ao dia em que dá com um homem solitário
no topo da sua duna preferida.
Clara
de Souza (2º
livro)
Esposa
do Inspetor Frederico.
Preocupada
com a obsessão do marido pelo insolúvel caso de Sevilha, reúne
todas as forças para lutar por ele, tentando resgatá-lo do
crescente alheamento que o atormenta.
Inspetor
Frederico de Souza
Recentemente
aposentado da PJ.
Apesar
de ter colaborado marginalmente no caso do atentado em Sevilha, a
impunidade do ato leva-o a encetar uma obsessiva cruzada em busca da
verdade.
Chefe
Mike (2º livro)
O
chefe Mike tem uma boa vida na tranquila Provincetown, e tem-na
aproveitado ao máximo. A chegada de um forasteiro irá complicar
muito a pacatez do bom Xerife. E com ele surge o primeiro
assassínio na pacífica povoação de Cape Cod.
Miguel
Lacerda
Inspetor
da PJ. Desencantado com a vida, com a ex mulher e com a reforma que
teima em fugir.
A
estranha ligação de um banqueiro assassinado a uma prostituta
desaparecida ameaçam estragar o Natal cuidadosamente preparado com a
sua filha.
Jota
Inspector
criminal da DNIC Angolana. Coordena uma investigação em
Cabinda e tenta não saír chamuscado deste mediático caso.
Anselmo
Munguambe
Ex
inspetor criminal da DNIC Angolana.
Vê-se
envolvido numa investigação em Cabinda. Tenta sem grande
êxito esquecer o seu amante de Luanda, o Puto Zé.
Kiese
Jovem
agente da policia de Cabinda.
Durante
demasiado tempo investigou sozinho o caso das jovens desaparecidas.
Com a chegada dos reforços vindos de Luanda, o seu equilíbrio
ameaça desintegrar-se.
Puto
Zé
Para
ele, a vida é uma festa. Ou melhor: muitas festas. Vive-a
intensamente,
sem preocupações nem
amarras. Um homem que nunca deixou se ser um puto.
Carlos
Parreira.
Psicopata
e assassino, desenvolve uma forte obsessão pela Teresa Belo, uma
prostituta de Luxo de Lisboa. Ex. mercenário. Atualmente
responsável pela segurança da ELAD, a empresa angolana de lapidação
de diamantes.
John
Travis
Ex.
mercenário Sul Africano.
Participou
com o Carlos Parreira no massacre de Nyarubuye. Banido de uma força
privada de segurança, procura junto do amigo um emprego na Elad, a
empresa angolana de lapidação de diamantes.
Edward
Choat (2º
livro)
Pai
da Annie.
Devastado
pela morte da filha, tenta preservar as memórias num caderninho que
leva consigo para todo o lado. Subitamente, numa visita ao
Pedro Lage, o seu quotidiano sofre uma dramática alteração.
Katty
Rilley (2º livro)
Filha
da Sam.
Com
o inseparável Bob, o amigável pastor belga, calcorreia alegremente
as praias de Cape Cod. Até ao dia em que dá com um homem solitário
no topo da sua duna preferida.
Teresa
Belo
Prostituta
de luxo com uma visão positiva, confiante e muito gratificante da
vida. Não fosse a enorme obsessão do Carlos Parreira por ela
e, sim, era caso para dizer:
la
vie en rose.
Annie
Choat
Mulher
de Pedro Lage.
Morreu
num atentado em Sevilha, quando uma bomba explodiu perto da Giralda.
Sam
Rilley (2º
livro)
Viúva,
mãe da Katty.
Muda-se
de Fort Worth, Texas, para Cape Cod, Massachusetts , na esperança de
refazer a sua vida.
Recupera
uma velha mansão na praia. Uma festa na Igreja de Provincetown irá
alterar radicalmente a sua vida.
Pedro
Lage
Médico
emigrado em Boston.
Regressa
a Lisboa à procura de vingar a morte de sua esposa, Annie Choat.